08 janeiro, 2010

Gerontologia: maioria dos profissionais está empregado

Licenciados conseguem entrar facilmente no mercado profissional mas ainda falta o reconhecimento da profissão
Cerca de 60 por cento dos alunos licenciados, no ano passado, em Gerontologia, da Escola Superior de Saúde de Bragança, estão inseridos no mercado de trabalho. Os números são da coordenadora do curso, Emília Magalhães que afirma ainda que, ao longo dos cinco anos de existência da licenciatura, grande parte dos alunos conseguiu entrar no mercado profissional e está a trabalhar maioritariamente em lares de terceira idade. “O curso de Gerontologia iniciou há cerca de cinco anos com 19 anos e todos eles estão empregados. Dos licenciados que saíram do curso já adaptado a Bolonha, cerca de 60 por cento também conseguiu entrar no mercado profissional”, apontou. O elevado número de população idosa e as necessidades deste segmento populacional tem permitido inserir estes licenciados sobretudo em centros sociais e paroquiais e nos lares de terceira idade. No entanto, conforme apontou a responsável, esta é uma profissão que irá ganhar mais visibilidade num futuro a médio prazo, pois gerontólogo não é apenas aquele que trabalha com idosos no lar. “O objectivo da profissão é ir de encontro às pessoas que estão nas suas casas e promover a sua qualidade de vida e um envelhecimento activo”, explicou Emília Magalhães. Um bom exemplo citado pela docente é o de um jovem recém-licenciado na área que investiu na criação de uma empresa de prestação de serviços exclusivamente para idosos. Esta é uma das melhores formas de chegar junto destas populações, segundo Emília Magalhães, até porque, segundo a docente, quando um idoso entra num lar “tem logo à partida uma probabilidade maior de adoecer e morrer mais cedo do que se ficasse em sua casa”.

Universidade Sénior à espera
A ideia de criar uma Universidade Sénior é que ainda não avançou e nem há perspectivas de que se venha a concretizar num curto prazo. Segundo Emília Magalhães, a Escola de Saúde de Bragança esteve inclusive em Almeria, em Espanha, para observar o funcionamento de uma Universidade Sénior com 500 idosos. Dado que em Bragança já existia em funcionamento a Universidade Sénior do Rotary Clube, os docentes propuseram partir do que já existia alargando o âmbito da mesma. “A ideia era, em protocolo com o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), alargar o âmbito da Universidade Sénior já existente e dar-lhe uma outra visibilidade, possibilitando aos idosos usar todos os serviços do politécnico”, explicou a responsável. No entanto, depois de algumas reuniões em que o IPB terá demonstrado abertura ao projecto, todo o processo terá ficado parado. “Tivemos algumas reuniões mas o feedback do Rotary Clube ainda não chegou”, apontou Emília Magalhães.

Núcleo para o estudo do idoso
Recentemente, os docentes ligados da Escola Superior de Saúde de Bragança decidiram avançar com a criação de um Núcleo de Investigação e Intervenção no idoso, infra-estrutura que será oficialmente apresentada no final do mês de Janeiro. Até ao momento, os responsáveis têm promovido contactos com especialistas da área de outros países como forma de conhecer a realidade no mundo e daí tirar experiências e ideias para projectos que possam beneficiar este segmento populacional que é cada vez mais crescente. Em Dezembro, no âmbito desse trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, a Escola Superior de Saúde recebeu uma docente de Gerontologia da Universidade de São Paulo, no Brasil, que falou sobre a realidade daquele país e dos sistemas de apoio que estão implementados. Apesar dos quilómetros de distancia que separam Portugal do Brasil, e deste último ser um país ainda relativamente jovem, há muitas semelhanças entre ambas as realidades. Com 14 milhões de idosos, o Brasil investiu na promoção do apoio da vizinhança, feito com a coordenação da Assistência Social, conforme explicou a oradora, Marisa Domingues. “Os vizinhos prestam algum tipo de ajuda, como dar uma refeição, comprar alimentos, ajudar no serviço de casa, e fazem-no com a ajuda de núcleos criados pela Assistência Social. São pequenos serviços mas que fazem toda a diferença entre manter a pessoa em casa ou ter de a colocar num abrigo ou num local de longa permanência”, explicou. Também em Portugal, nomeadamente em Trás-os-Montes, durante muitos anos as estratégias de solidariedade basearam-se quase exclusivamente nos laços de vizinhança, de amizade ou familiares. Mas, tanto em Portugal como no Brasil, esse é um sistema frágil e a entrar em colapso. “Hoje há uma grande dificuldade porque os familiares mais jovens emigraram para cidades maiores à procura de novos empregos e muitas localidades envelheceram”, explicou a docente brasileira, adiantando que, hoje em dia, o Brasil vive sérios problemas com as crianças e ao nivel da alfabetização, mas também com os idosos, sobretudo com os mais dependentes. A vinda a Trás-os-Montes permitiu a Marisa Domingues levar para a Universidade de São Paulo algumas experiências bem sucedidas e já experimentadas em Portugal. Ao mesmo tempo, permitiu aos docentes da Escola de Saúde conhecer outras realidades e “trocar ideias”. No dia 28 de Janeiro, o Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso irá ser apresentado oficialmente no âmbito de uma conferência a realizar sobre a temática.

Publicado no jornal 'Mensageiro Notícias'.

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