Uma aluna da licenciatura
em Enfermagem Veterinária
da Escola Superior Agrária
(ESA) está a desenvolver um
projeto de intervenção nas
colónias de gatos errantes da
cidade de Bragança, com o
objetivo de proteger e controlar
as colónias.
Para além
de fornecer alimentação é necessário
impedir a sua multiplicação,
aplicando o plano
CED (Capturar-Esterilizar-Devolver). Apesar de contar
com a colaboração de duas
clínicas veterinárias, o projeto
vive muito do empenho da
jovem estudante, que além do
tempo, faculta todo o material
usado, desde transportadoras,
jaulas e armadilhas.
O projeto designado ICGatos
Bragança começou a desenvolvido
em março de 2013
por várias alunas daquele
curso, que entretanto saíram.
Está agora sob a responsabilidade
de Ana Silva, 23 anos,
com a ajuda de outro estudante,
Rafael Rocha. Conta
ainda com a colaboração da
ESA, e de dois veterinários,
Duarte Lopes, da Clínica Veterinária
VetSantiago, e Ana
Pereira, da Clínica Veterinária
Vetcenter.
A ideia surgiu duma conversa
de café, onde se falava sobre
o que é o plano CED. “Nessa
mesma conversa, falava das
dificuldades que tinha em
aplicá-lo, pois os gatos eram
capturados (na altura, na colónia
do bairro Artur Mirandela)
numa quinta-feira/sexta-feira e posteriormente
vinham para o Porto (de
onde sou natural) para serem
esterilizados a um preço mais
acessível”, recordou Ana Silva.
Todos os custos eram suportados
por si. Os animais passavam
essa semana no Porto
e posteriormente, voltavam
para o seu habitat de origem.
“O que causava imenso stress.
Lamento profundamente que
nenhuma associação na cidade
de Bragança faça isto”, confessou.
O plano CED despertou
interesse nos estudantes e
deu-se início ao projeto. Nasceu
o ICGatos.
Foram escolhidos os gatos da
cidadela porque o número de
animais do bairro Artur Mirandela
estava controlado e,
após a realização de um estudo,
a colónia que mostrava
um grande descontrolo
populacional era a da zona
do castelo. “Eram imensos
elementos, muitos deles em
mau estado devido a lutas.
Também por ser um ponto
turístico”, contou a aluna.
Desde que começaram já se
notam as mudanças. “Acho
que o maior impacto foi a
diminuição do número de
animais, pois diversos foram
adoptados por serem meigos
e imensos bebés foram recolhidos
e posteriormente encaminhados
para adopção. Os
miados desesperados das fêmeas
em cios diminuíram o
que contribuiu para o bem estar
da população humana”,
referiu Ana Silva.
Os animais também se tornaram
mais saudáveis, visto
que diversas doenças, como
a tinha, foram tratadas, passaram
a ter uma vida mais sedentária
e com menos lutas.
“Os próprios animais tornaram-
se mais bonitos”, garante.
Estudo de intervenção
Tudo começa com a identificação
da colónia, a partir
desse momento, inicia-se o
estudo para a intervenção ter
o maior sucesso possível. Inicialmente,
é necessário falar
com os moradores da zona e
perceber se aquela colónia é
protegida pelos mesmos, isto
é, se é alimentada por algum
morador e principalmente se
é bem-vinda no local. “É fundamental
explicar aos moradores o que vai ser realizado e
expor as vantagens dessa intervenção,
como por exemplo,
não haverá aumento do
número de animais e principalmente
o bem-estar da população
humana e animal aumentará”,
descreve Ana Silva.
O passo seguinte consiste em
contabilizar o número de gatos
e a sua identificação.
Depois de estabelecido o plano
de intervenção, iniciam-se
as capturas. Para concretizar
este passo, é necessário ter a
colaboração dos moradores
visto que os animais deverão
não ter acesso a comida no
dia anterior.
A captura consiste na colocação
de armadilha no local,
após cada captura dum animal
esse é transferido para
uma transportadora e a armadilha
é colocada novamente
no local. “A armadilha
é do género duma jaula com
um alçapão no meio, o animal
ao entrar para comer pisa
essa estrutura e a porta fecha”,
enumera. Nesse dia o animal
passa a noite na transportadora
sem acesso a alimentação e
no dia seguinte, será esterilizado.
E apenas será devolvido
ao local de origem após uma
semana, no caso das fêmeas
e dois dias quando se trata de
machos.
“Nesse período, ficam comigo
tendo acesso a todos os
cuidados necessários. Sendo
o pós-operatório realizado
dentro de jaulas com todas
as condições”, acrescenta.
No que toca a gatinhos bebés
ou gatos sociáveis, Ana Silva
acredita que a maioria eram
animais que outrora tiveram
um lar, pondera-se sempre a
adopção e nesse caso, inicia-se
o trabalho de sociabilização
com humanos e outros
animais, e adaptação a uma
vida dentro duma habitação. Todos os animais devolvidos
à rua, possuem um corte na
orelha esquerda. Símbolo internacional
de animal protegido
e esterilizado.
Durante o período de existência
do ICGatos Bragança, cerca
de 80 bichos já foram esterilizados,
28 animais adultos
e 32 bebés foram adoptados.
Ana Silva faz um balanço
muito positivo, todavia com
a sua saída para trabalhar fora
de Bragança não foi possível
terminar a colónia existente
na zona histórica e na zona de
S. João de Brito.
“Com a intervenção do ICGatos,
acredito que a vida
dos gatos errantes melhorou
e até dos habitantes que moram
nas redondezas, pois os
miados desesperados na época
do cio diminuíram, consequência
da esterilização das
fêmeas. Também assim, o
número de animais não aumentou
drasticamente como
iria aumentar”, justifica.
A nível visual não se encontram
tantos gatos magoados
(situação normal da época de
cios, em que os machos lutam
pela fêmea) e os exemplares
esterilizados como se tornam
mais sedentários, apesar de
viverem na rua, o seu aspecto
é visualmente muito mais
agradável.
Por outro lado, a intervenção
levou a que mais pessoas
abandonassem gatos nas
colónias com a esperança de
que fossem recolhidos.
Publicado em 'Mensageiro de Bragança'.