A crise europeia que afecta Portugal e as medidas de austeridade que se traduzem no encerramento de serviços no distrito de Bragança foram alguns dos temas analisados por Nuno Rogeiro.
O comentador político esteve em Bragança, na passada quinta-feira, para participar numa conferência sobre a Europa, organizada pelo Secretariado Distrital de Bragança dos Trabalhadores Sociais-Democratas.
Jornal Nordeste (JN) – Disse que esteve em Bragança há 25 anos atrás. As assimetrias, que têm vindo a ser reforçadas com o anúncio de encerramento de serviços públicos, podem levar Bragança recuar no tempo?
Nuno Rogeiro (NR) – Tenho pena que algumas possibilidades de desencravar Bragança, como por exemplo a linha de comboio, tenham sido abandonadas. Eu sei que na altura as pessoas protestaram, mas acho que era importante perguntar se Bragança não precisava de ter novos serviços para a ligar a uma zona de Espanha, que também se queixa de ser abandonada por Madrid. Porque esta zona de Léon e Zamora, também se queixa de ser desprezada por Madrid. A interioridade não é uma ficção. Há custos da interioridade. Vir de Lisboa para Bragança, se não houvesse este aviãozinho, era complicadíssimo. E Bragança tem que arranjar uma maneira de ultrapassar esses custos. Eu sei que Bragança tem uma vantagem. É que enquanto outras cidades têm pessoas que já não gostam muito delas, Bragança ainda tem muitas pessoas que gostam de Bragança. Agora é preciso mais do que isso. Bragança podia transformar-se num pólo industrial mais importante do que é actualmente. Tem cá uma fábrica para a criação de componentes para veículos. Tem o Instituto Politécnico, que é um dos melhores de Portugal. Mas, não sei se não seria a altura para seguir numa aposta mais estratégica na indústria. E se Portugal não produzir não vai a lado nenhum.
JN – Considera dramática a retirada de serviços do distrito de Bragança?
NR – Eu acho que há serviços públicos que são perfeitamente essenciais e há outros que são redundantes. Agora fechar a única opção acho que não faz sentido nenhum. Antes de se tomarem as decisões tem que haver um plano estratégico em que as pessoas sejam informadas sobre o que é que vai acontecer. Que haja discussão pública suficiente antes de se tomarem as decisões. Dizem que há discussão, mas o que é certo é que as decisões chegam e as pessoas ficam sem saber porque é que elas foram tomadas. Esse é que é o grande problema.
JN – Falou aqui da passagem de uma Europa consentida, para uma Europa sem sentido. Perante a actual situação acha que esta Europa ainda faz sentido?
NR – Em muitos aspectos não faz, porque não se consegue explicar em relação a algumas decisões que toma. Por exemplo, na última Cimeira Europeia, a aplicação aos bancos espanhóis de regras específicas que parecem vantajosas não foi muito bem explicada, porque infelizmente muitos dos bancos espanhóis que são beneficiados são bancos delituosos. E eu sempre fui ensinado que a fraude não tinha uma recompensa, mas sim um castigo. É importante explicar se este pacote é uma recompensa para entidades que não deviam ser recompensadas, mas deviam antes ser investigadas, ou se é outra coisa. A Europa sem sentido também vive muito destas ambiguidades, que eu acho que não ajudam ninguém.
JN – E Portugal tem sido prejudicado?
NR – Eu acho que Portugal nem no futebol foi prejudicado. Nós dependemos de nós próprios. Se jogamos bem ou se não jogamos bem. Acho que nesse aspecto Portugal não se pode queixar de ter sido prejudicado por ninguém. Se compararmos o memorando de entendimento com a Troika celebrado com Portugal com o irlandês e o grego acho que o memorando português até é vantajoso em muitos aspectos e dá mais liberdade do que dá, por exemplo, o memorando grego. Acho que o Governo português teria mais capacidade de actuação com este memorando do que um governo grego. Portanto acho que não podemos queixar-nos de males exteriores.
JN – E é um jogo bem jogado pelos nossos políticos?
NR – A questão é saber se em Portugal estamos ou não bem representados. Isso se calhar traduz-se na abstenção, que tem atingido níveis perfeitamente recorde. A abstenção em Portugal é optimista, no caso de pessoas que dizem que não é preciso votar porque está tudo decidido, e pessimista, no sentido de haver pessoas que dizem que está tudo viciado. Mas que há graves crises de representação em Portugal, isso sem dúvida.
Publicado em 'Jornal Nordeste'.
Jornal Nordeste (JN) – Disse que esteve em Bragança há 25 anos atrás. As assimetrias, que têm vindo a ser reforçadas com o anúncio de encerramento de serviços públicos, podem levar Bragança recuar no tempo?
Nuno Rogeiro (NR) – Tenho pena que algumas possibilidades de desencravar Bragança, como por exemplo a linha de comboio, tenham sido abandonadas. Eu sei que na altura as pessoas protestaram, mas acho que era importante perguntar se Bragança não precisava de ter novos serviços para a ligar a uma zona de Espanha, que também se queixa de ser abandonada por Madrid. Porque esta zona de Léon e Zamora, também se queixa de ser desprezada por Madrid. A interioridade não é uma ficção. Há custos da interioridade. Vir de Lisboa para Bragança, se não houvesse este aviãozinho, era complicadíssimo. E Bragança tem que arranjar uma maneira de ultrapassar esses custos. Eu sei que Bragança tem uma vantagem. É que enquanto outras cidades têm pessoas que já não gostam muito delas, Bragança ainda tem muitas pessoas que gostam de Bragança. Agora é preciso mais do que isso. Bragança podia transformar-se num pólo industrial mais importante do que é actualmente. Tem cá uma fábrica para a criação de componentes para veículos. Tem o Instituto Politécnico, que é um dos melhores de Portugal. Mas, não sei se não seria a altura para seguir numa aposta mais estratégica na indústria. E se Portugal não produzir não vai a lado nenhum.
JN – Considera dramática a retirada de serviços do distrito de Bragança?
NR – Eu acho que há serviços públicos que são perfeitamente essenciais e há outros que são redundantes. Agora fechar a única opção acho que não faz sentido nenhum. Antes de se tomarem as decisões tem que haver um plano estratégico em que as pessoas sejam informadas sobre o que é que vai acontecer. Que haja discussão pública suficiente antes de se tomarem as decisões. Dizem que há discussão, mas o que é certo é que as decisões chegam e as pessoas ficam sem saber porque é que elas foram tomadas. Esse é que é o grande problema.
JN – Falou aqui da passagem de uma Europa consentida, para uma Europa sem sentido. Perante a actual situação acha que esta Europa ainda faz sentido?
NR – Em muitos aspectos não faz, porque não se consegue explicar em relação a algumas decisões que toma. Por exemplo, na última Cimeira Europeia, a aplicação aos bancos espanhóis de regras específicas que parecem vantajosas não foi muito bem explicada, porque infelizmente muitos dos bancos espanhóis que são beneficiados são bancos delituosos. E eu sempre fui ensinado que a fraude não tinha uma recompensa, mas sim um castigo. É importante explicar se este pacote é uma recompensa para entidades que não deviam ser recompensadas, mas deviam antes ser investigadas, ou se é outra coisa. A Europa sem sentido também vive muito destas ambiguidades, que eu acho que não ajudam ninguém.
JN – E Portugal tem sido prejudicado?
NR – Eu acho que Portugal nem no futebol foi prejudicado. Nós dependemos de nós próprios. Se jogamos bem ou se não jogamos bem. Acho que nesse aspecto Portugal não se pode queixar de ter sido prejudicado por ninguém. Se compararmos o memorando de entendimento com a Troika celebrado com Portugal com o irlandês e o grego acho que o memorando português até é vantajoso em muitos aspectos e dá mais liberdade do que dá, por exemplo, o memorando grego. Acho que o Governo português teria mais capacidade de actuação com este memorando do que um governo grego. Portanto acho que não podemos queixar-nos de males exteriores.
JN – E é um jogo bem jogado pelos nossos políticos?
NR – A questão é saber se em Portugal estamos ou não bem representados. Isso se calhar traduz-se na abstenção, que tem atingido níveis perfeitamente recorde. A abstenção em Portugal é optimista, no caso de pessoas que dizem que não é preciso votar porque está tudo decidido, e pessimista, no sentido de haver pessoas que dizem que está tudo viciado. Mas que há graves crises de representação em Portugal, isso sem dúvida.
Publicado em 'Jornal Nordeste'.
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