18 abril, 2013

Politécnicos têm capacidade para absorver mais 20 mil alunos



Licenciado e doutorado em Engenharia Química pela Universidade do Porto, Sobrinho Teixeira, mirandelense de 51 anos, cumpre o segundo mandato à frente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Vê nele, e quer fazer dele, o motor do desenvolvimento regional transmontano.

Asfixiados financeiramente como estão, os politécnicos e as universidades estão no limiar da sobrevivência?
O país tem de perceber o esforço enorme que o Ensino Superior fez ao longo dos últimos anos. Perdemos mais de 35% do orçamento que nos estava atribuído. Mas também me parece que temos caminho a fazer para aumentar a receita. 

E que caminho é esse?
Há uma grande apetência para a aprendizagem da língua portuguesa e de cursos dados em português. O mundo da lusofonia está em grande expansão económica e é muito atrativo para uma série de economias já consolidadas ou emergentes.

Quer dar um exemplo?
Para muitas das empresas chinesas que estão a laborar em Angola, uma pessoa asiática que tenha aprendido engenharia em português tem uma enorme vantagem competitiva naquele mercado de trabalho.

O Governo tem sido padrasto para as instituições de Ensino Superior, nesse particular? Reclamamos o novo estatuto do aluno estrangeiro, bem como o novo estatuto da autonomia e ainda não saíram. As coisas demoram sempre muito tempo! O sistema politécnico tem capacidade para absorver mais 20 mil alunos, o que daria qualquer coisa como 20 milhões de euros de entrada de receita.

E isso não acontece porquê?
Temos de ter mais dinamismo. Sobretudo o Governo.

O politécnico é o parente pobre do Ensino Superior?
No que diz respeito ao Ensino Superior, Portugal sempre foi snob. Isso já vem do Estado Novo. É o chamado país dos doutores. Essa visão ainda perdura um bocadinho na sociedade portuguesa. Nessa visão do país dos doutores não percebemos muito bem que o politécnico e a universidade não têm muito a ver um com o outro.

É por isso que, de quando em vez, se levantam discussões como a da eventual junção do JPB com a UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)?
É por não se perceber essa diferenciação de missões.

Seria um erro crasso juntar as duas instituições?
Seria. Portugal tem um sistema binário, no qual a Europa está a apostar cada vez mais. Na Holanda, 63% do sistema é constituído por ensino politécnico. A Finlândia tem 54%. Portugal tem só 37%.

O reitor da UTAD defende a fusão. Como lê esse desejo?
Não sei. Os analistas recomendam muito cuidado com as fusões. Desde logo, porque não traz reduções orçamentais nas necessidades das instituições. Se tivéssemos sido o caminho da fusão, o IPB não teria hoje 7500 alunos, nem a UTAD teria os alunos que tem [cerca de 9 mil]. Além disso, a tendência seria para sugar as competências aqui instaladas. A região perderia imenso com isso. Não teríamos, certamente, a capacidade de investigação que hoje existe no IPB e na UTAD. O IPB foi, no último concurso da Fundação para a Ciência e Tecnologia, o politécnico com mais projetos aprovados a nível nacional, 40% dos que apresentamos.

A grande missão do IPB é a indução do desenvolvimento regional?
Sem dúvida. Os politécnicos estão inseridos sobretudo em regiões cujo tecido por micro, pequenas e médias empresas. Um qualificado, por exemplo, do Instituto Superior Técnico não terá a mesma apetência, a mesma vocação e a mesma qualificação para se dirigir a uma PME e exercer essa função.

Ou seja: na sua opinião, não faz sentido o IPB transformar-se numa universidade.
O IPB teve esse desejo há uns anos. Fiz parte do projeto que defendeu a criação de uma universidade de Bragança num contexto totalmente diferente do atual. Hoje já não me parece um projeto exequível.

Mas se houvesse condições voltaria a defender a criação de uma universidade?
É uma pergunta difícil. Que condições seriam essas? Quais seriam os pressupostos?

Que importância tem a internacionalização para o futuro do IPB?
É um dos grandes fatores da nossa afirmação. Quando internacionalizo ninguém me pergunta a que distância estou de Lisboa. Perguntam-me pelas capacidades que tenho a nível da qualificação e da investigação. E é aí que acho que Bragança é mais competitiva do que a maior parte das regiões, incluindo as do Litoral. Além disso, temos um custo de vida e uma qualidade de vida invejáveis. Aqui, um aluno gasta cerca de 1/4 do que gasta em Lisboa e 1/3 do que gasta no Porto. Temos mil alunos estrangeiros de 31 países. Isto transforma Bragança numa cidade cosmopolita em termos culturais. A capacidade de gerar projetos internacionais representa, também, uma enorme entrada de receitas próprias.


O IPB EM NÚMEROS
 
380 professores
constituem corpo docente do Politécnico de Bragança. O Instituto tem 300 funcionários e 7500 alunos, mil dos quais provenientes de 31 países estrangeiros.

44 licenciaturas
oferecidas pelas cinco escolas que integram o IPB (quatro em Bragança, uma em Mirandela). Há, ainda, 36 mestrados e 30 cursos de especialização tecnológica.

 1,2 milhões de euros
recebidos da Fundação de Ciência e Tecnologia no último concurso em que o IPB participou. 700 mil atribuídos para investigação no setor olivícola.


DA OLIVEIRA À FAURECIA
 
Pedia-lhe três exemplos de resultados práticos no desenvolvimento desta região fruto do trabalho do IPB.
O trabalho no setor da oliveira é um bom exemplo. O setor não seria hoje o mesmo sem a intervenção do IPB. Na castanha temos igualmente uma intervenção decisiva. E o trabalho que estamos a fazer no Brigantia Ecopark, tentando captar empresas de tecnologia de ponta, é também um bom exemplo da nossa intervenção no desenvolvimento regional.

A agroindústria é o futuro desta região?
A região tem de ancorar-se nela, disso não tenho dúvida, mas não é suficiente para desenvolver uma região. Precisamos de um setor secundário forte. Temos o exemplo da Faurecia, que emprega 500 pessoas e é das mais competitivas do grupo na Europa.


Publicado em 'JN' de 18 de Abril de 2013.

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