Equipas do Politécnico de Bragança apresentaram dois projetos no Green Campus
Norteados pela redução da fatura energética e pela racionalização dos consumos, professores e alunos do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) conceberam dois projetos que figuram entre os 12 finalistas do “Green Campus - Desafio Eficiência Energética no Ensino Superior”.
“Tech- BioEnergy” e “IPB Green Campus” são os representantes da região transmontana numa competição onde foram submetidos 81 trabalhos.
Organizado pelo Instituto Superior Técnico, o Green Campus é um concurso de âmbito nacional que pretende contribuir para o aumento da eficiência energética no Ensino Superior. A final terá lugar a 2 de julho em Lisboa. O vencedor receberá seis mil euros, mas há ainda prémios até ao 3º lugar e para as melhores medidas técnica e comportamental.
Os cinco elementos de cada equipa optaram por fazer uma radiografia energética à Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTIG), identificando os pontos críticos e propondo medidas de eficiência.
O projeto TechBioEnergy, liderado por João Paulo Castro, aponta como prioridades: a substituição das janelas, a colocação de uma nova caixilharia e a instalação de uma caldeira a pellets. “As janelas já têm 15 anos e perde-se alguma energia. Estimámos uma poupança de 30% só pela substituição da caixilharia. Depois, a caldeira a gás, que faz o aquecimento, traduz-se numa fatura de energia enorme. Com os pellets [concentrado de madeira que depois pode ser queimado em fogões específicos para produção de calor] gastamos menos dinheiro”, salienta o docente.
O sistema de distribuição de água quente mereceu também a atenção da equipa, que recomenda uma diferenciação de temperatura entre os pisos do edifício. “Como o ar quente sobe, nos pisos superiores, a água não necessitaria de ser tão quente. Há umas válvulas especiais que seria interessante colocar, porque não só reduzem as perdas como aumentam a eficiência.”
João Paulo Castro lembra ainda as medidas passivas de aproveitamento de energia solar: “propusemos a utilização de vegetação natural para ensombramento, nomeadamente com árvores de folha caduca que não impedem a entrada de sol no inverno e no verão, cortam o aquecimento solar”.
Biomassa “enjoa na viagem”
Para o docente, chegar à fase final do Green Campus foi uma surpresa, pois “estamos a competir ao mais alto nível”. A conceção do TechBioEnergy implicou uma análise de “todo o potencial de biomassa” existente no distrito de Bragança, constatando-se uma oportunidade de negócio. “As unidades fabris que existem para consumo da floresta estão muito longe, logo gasta-se muito dinheiro só em transporte. Por isso é que dizemos que a biomassa enjoa na viagem.” A solução passaria pela criação, no parque industrial de cada concelho, de uma zona de receção “onde se faria o pré-tratamento da biomassa por forma a densificá-la e reduzir os custos de transporte para uma unidade central que seria em Macedo de Cavaleiros”. “A partir daí, seria montado todo o sistema de distribuição, em que a ESTIG funcionaria como promotor”, destaca.
Consequentemente, esta medida promoveria “o crescimento do produtor florestal”, criando uma alternativa para o escoamento do produto, “que neste momento não tem”. “Podia-se aproveitar, ainda, outra biomassa que existe em abundância em Trás-os-Montes, como os resíduos da exploração agrícola (o bagaço de azeitona ou a casca de amêndoa)”, acrescenta.
Data Center: uma questão nevrálgica
Orlando Soares lidera o projeto IPB Green Campus, cuja preocupação primordial se prende com o sistema de arrefecimento do Centro de Processamento de Dados (Data Center) do IPB, alojado nas instalações da ESTIG. “Sugerimos uma medida que permitisse utilizar a água de um poço próximo para arrefecimento, diminuindo o consumo de energia elétrica. Seria apenas necessário um investimento na ordem dos seis mil euros, mas o tempo de retorno seria muito curto.”
A auditoria energética ao edifício permitiu ainda observar a necessidade de corrigir o fator de potência e diminuir o “grande consumo na parte da iluminação”. Neste último caso, o problema ficaria resolvido com a mudança das lâmpadas de halogéneo para LED e de lâmpadas T8 para T5 por serem “mais eficientes, sem degradar o fluxo luminoso”.
Para diminuir o consumo de energia térmica, Orlando Soares recomenda o seccionamento dos circuitos de aquecimento, ou seja, isolar zonas com diferentes graus de utilização. “Os gabinetes de docentes e os laboratórios estão no mesmo circuito de aquecimento, mas têm taxas de utilização diferentes. Podemos isolar zonas de utilização distinta com a instalação de válvulas motorizadas programáveis em pontos estratégicos”, esclarece.
Educação para a sustentabilidade
O IPB Green Campus incluiu ainda medidas comportamentais que visam sensibilizar os utilizadores das instalações para a urgência de reduzir os consumos energéticos. “Sugerimos a criação de certificados energéticos (à semelhança dos que existem para as habitações) por secções, em que haveria um responsável que faria o check in de alguns parâmetros”, explica o docente. Depois, seria atribuído um certificado à secção e “tornado público”. “Assim, saberíamos onde é que as pessoas têm cuidado com a utilização de energia e onde é que não a desperdiçam”, frisa.
A equipa concluiu que, após a implementação das várias medidas de economia de energia, haveria uma redução de 15% nas emissões de dióxido de carbono. “Estamos a concorrer com grandes universidades, algumas com departamentos próprios de eficiência energética. Surpreendeu-me chegar à fase final”, confessa Orlando Soares.
Publicado em 'Repórter do Marão' junho 2012.
Norteados pela redução da fatura energética e pela racionalização dos consumos, professores e alunos do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) conceberam dois projetos que figuram entre os 12 finalistas do “Green Campus - Desafio Eficiência Energética no Ensino Superior”.
“Tech- BioEnergy” e “IPB Green Campus” são os representantes da região transmontana numa competição onde foram submetidos 81 trabalhos.
Organizado pelo Instituto Superior Técnico, o Green Campus é um concurso de âmbito nacional que pretende contribuir para o aumento da eficiência energética no Ensino Superior. A final terá lugar a 2 de julho em Lisboa. O vencedor receberá seis mil euros, mas há ainda prémios até ao 3º lugar e para as melhores medidas técnica e comportamental.
Os cinco elementos de cada equipa optaram por fazer uma radiografia energética à Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTIG), identificando os pontos críticos e propondo medidas de eficiência.
O projeto TechBioEnergy, liderado por João Paulo Castro, aponta como prioridades: a substituição das janelas, a colocação de uma nova caixilharia e a instalação de uma caldeira a pellets. “As janelas já têm 15 anos e perde-se alguma energia. Estimámos uma poupança de 30% só pela substituição da caixilharia. Depois, a caldeira a gás, que faz o aquecimento, traduz-se numa fatura de energia enorme. Com os pellets [concentrado de madeira que depois pode ser queimado em fogões específicos para produção de calor] gastamos menos dinheiro”, salienta o docente.
O sistema de distribuição de água quente mereceu também a atenção da equipa, que recomenda uma diferenciação de temperatura entre os pisos do edifício. “Como o ar quente sobe, nos pisos superiores, a água não necessitaria de ser tão quente. Há umas válvulas especiais que seria interessante colocar, porque não só reduzem as perdas como aumentam a eficiência.”
João Paulo Castro lembra ainda as medidas passivas de aproveitamento de energia solar: “propusemos a utilização de vegetação natural para ensombramento, nomeadamente com árvores de folha caduca que não impedem a entrada de sol no inverno e no verão, cortam o aquecimento solar”.
Biomassa “enjoa na viagem”
Para o docente, chegar à fase final do Green Campus foi uma surpresa, pois “estamos a competir ao mais alto nível”. A conceção do TechBioEnergy implicou uma análise de “todo o potencial de biomassa” existente no distrito de Bragança, constatando-se uma oportunidade de negócio. “As unidades fabris que existem para consumo da floresta estão muito longe, logo gasta-se muito dinheiro só em transporte. Por isso é que dizemos que a biomassa enjoa na viagem.” A solução passaria pela criação, no parque industrial de cada concelho, de uma zona de receção “onde se faria o pré-tratamento da biomassa por forma a densificá-la e reduzir os custos de transporte para uma unidade central que seria em Macedo de Cavaleiros”. “A partir daí, seria montado todo o sistema de distribuição, em que a ESTIG funcionaria como promotor”, destaca.
Consequentemente, esta medida promoveria “o crescimento do produtor florestal”, criando uma alternativa para o escoamento do produto, “que neste momento não tem”. “Podia-se aproveitar, ainda, outra biomassa que existe em abundância em Trás-os-Montes, como os resíduos da exploração agrícola (o bagaço de azeitona ou a casca de amêndoa)”, acrescenta.
Data Center: uma questão nevrálgica
Orlando Soares lidera o projeto IPB Green Campus, cuja preocupação primordial se prende com o sistema de arrefecimento do Centro de Processamento de Dados (Data Center) do IPB, alojado nas instalações da ESTIG. “Sugerimos uma medida que permitisse utilizar a água de um poço próximo para arrefecimento, diminuindo o consumo de energia elétrica. Seria apenas necessário um investimento na ordem dos seis mil euros, mas o tempo de retorno seria muito curto.”
A auditoria energética ao edifício permitiu ainda observar a necessidade de corrigir o fator de potência e diminuir o “grande consumo na parte da iluminação”. Neste último caso, o problema ficaria resolvido com a mudança das lâmpadas de halogéneo para LED e de lâmpadas T8 para T5 por serem “mais eficientes, sem degradar o fluxo luminoso”.
Para diminuir o consumo de energia térmica, Orlando Soares recomenda o seccionamento dos circuitos de aquecimento, ou seja, isolar zonas com diferentes graus de utilização. “Os gabinetes de docentes e os laboratórios estão no mesmo circuito de aquecimento, mas têm taxas de utilização diferentes. Podemos isolar zonas de utilização distinta com a instalação de válvulas motorizadas programáveis em pontos estratégicos”, esclarece.
Educação para a sustentabilidade
O IPB Green Campus incluiu ainda medidas comportamentais que visam sensibilizar os utilizadores das instalações para a urgência de reduzir os consumos energéticos. “Sugerimos a criação de certificados energéticos (à semelhança dos que existem para as habitações) por secções, em que haveria um responsável que faria o check in de alguns parâmetros”, explica o docente. Depois, seria atribuído um certificado à secção e “tornado público”. “Assim, saberíamos onde é que as pessoas têm cuidado com a utilização de energia e onde é que não a desperdiçam”, frisa.
A equipa concluiu que, após a implementação das várias medidas de economia de energia, haveria uma redução de 15% nas emissões de dióxido de carbono. “Estamos a concorrer com grandes universidades, algumas com departamentos próprios de eficiência energética. Surpreendeu-me chegar à fase final”, confessa Orlando Soares.
Publicado em 'Repórter do Marão' junho 2012.
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