10 setembro, 2013

Instituições com menos alunos esperam recuperar na segunda fase


Atracção de públicos alternativos evita situação de emergência no ensino superior face à quebra do número de candidatos. Governo insiste na necessidade de racionalização da rede
A redução do número de alunos colocados no ensino superior na primeira fase do concurso nacional ainda não é dramática para as instituições. Os responsáveis das universidades e dos institutos politécnicos onde entraram menos novos estudantes acreditam que as próximas fases de acesso e os concursos especiais ajudarão a compensar a perda registada. Face aos números conhecidos no fim-de-semana, o Governo volta a insistir na necessidade de racionalizar a rede de ensino superior.
"Não estou excessivamente preocupado", resume o presidente do Politécnico de Bragança, Sobrinho Teixeira. "Temos conseguido colmatar essa diferença com a captação de novos públicos", diz. Aquela instituição é uma das que tiveram uma menor taxa de entrada de novos alunos na primeira fase do concurso nacional, tendo preenchido 23% das vagas disponíveis - pior só o Politécnico de Tomar, com 20%.
No entanto, o concurso nacional está longe de ser a única fonte de novos alunos na instituição. Pouco mais de metade dos estudantes são colocados por esta via, havendo ainda que contabilizar as entradas dos concursos locais, os concursos especiais e o acesso de estudantes estrangeiros, que nos últimos anos têm trazido mil novos inscritos por ano naquele instituto superior. A estes juntam-se os alunos que acedem ao ensino superior pela via dos Cursos de Especialização Tecnológica que este ano voltaram a acrescer (mil candidatos, mais 300 do que no ano anterior). "No final, o número de alunos até será superior ao do ano transacto", antecipa Sobrinho Teixeira.
A expectativa é partilhada por Rosa Maria Goulart, vice-reitora da Universidades dos Açores, sublinhando que há 270 vagas para preencher naquela universidade nos concursos locais, mais do que o número de lugares sobrantes depois da primeira fase. Naquela universidade foram preenchidas 61% das vagas, ao passo que no Algarve esse número ficou pelos 53% de vagas preenchidas, o mais baixo entre o subsector universitário. Ainda assim, as segunda e terceira fases "têm permitido preencher as vagas oferecidas pela instituição", avança fonte da instituição. No ano passado, a totalidade das inscrições no primeiro ano, juntando concurso nacional e especiais, atingiram 1640 alunos, num total de vagas de 1653.
Ontem, à margem de uma visita a uma escola na Moita (ver caixa), o ministro da Educação, Nuno Crato, defendeu que as instituições de ensino superior têm de "repensar a sua oferta", particularizando os casos de cursos em que não existem candidaturas. "Já tomámos medidas para que os cursos com apenas dez alunos não reabrissem e agora, depois de conhecer resultados da segunda e terceira fases, vamos ter de voltar a tomar medidas", prometeu. Crato insistiu também na "necessidade de uma reestruturação da rede", que tem de ser feita "em colaboração com as instituições de ensino superior".
Os resultados da primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior "mostram como é ainda mais urgente debruçarmo-nos sobre o país que queremos ter", afirma o antigo ministro da Educação Júlio Pedrosa. "Queremos um país a cair para o Atlântico, com o interior desertificado?", questiona o catedrático, que também presidiu ao CNE. Pedrosa fala na existência de um "deserto demográfico" no interior, que ajuda a explicar este fenómeno.
A esta explicação, o presidente da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, Alberto Amaral, acrescenta outra. Os resultados da primeira fase do concurso nacional podem explicar-se pela "falta de eficiência no secundário". "Há um número muito significativo de alunos que por diversas razões não continuam para o superior: reprovação, desistência, mudança para o mercado de trabalho", aponta.

Publicado em 'Público'.

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