A suscetibilidade
de incêndio no
distrito é alta
ou muito alta,
concluíram
docentes da
Escola Superior
Agrária de
Bragança.
Os incêndios florestais representam um terço de prejuízos no total do valor da rentabilidade do setor florestal anual, cujos ganhos equivalem a 1300 milhões de euros por ano em Portugal. “Não nos podemos dar ao luxo de estar a produzir uma riqueza que depois cerca de um terço é perdida. O que é brutal”, afirmou o presidente da Sociedade Portuguesa de Florestas, Francisco Castro Rêgo, à margem do Seminário Incêndios Florestais que se realizou na Escola Superior Agrária de Bragança (ESA) na sexta e sábado.
O responsável considera que os planos de ação existem, todavia “não estão a ser concretizados por falta de estabilidade política”. Estas dificuldades ficam a dever-se a vários fatores, como a “instabilidade de direções, mudanças sucessivas de políticos, cada vez que vem um novo quer rever o que está a ser feito, as alterações de leis orgânicas nos serviços, bem como as fusões de organismos”, afirmou Francisco Castro Rêgo, que também lamentou “que, muitas vezes, quem manda só fique alertado para as situações depois de acontecerem grandes incêndios”.
Os fogos dão origem a floresta de pior qualidade, bem como a prejuízos ambientais e económicos. A área florestal não está a regredir. “Temos cada vez mais floresta de pior qualidade, temos cada vez mais povoamentos mistos de pinheiro e eucalipto”, acrescentou. No mesmo evento também se defendeu que a redução da área ardida passa “por trabalhar em várias frentes”, como a “redução do número de ignições, aposta na intervenção, na gestão do combustível e na melhoria do combate aos incêndios, que ainda é bastante frágil”, referiu Paulo Fernandes, investigador da Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro (UTAD). Esta alteração implicaria, para o docente, “uma mudança em termos políticos, dando mais ênfase à prevenção, deslocando algum investimento do combate para a prevenção”, justificou.
Portugal tem muita área ardida porque tem condições naturais propícias, como o clima, condições de terreno, tipos de vegetação, ao que acresce um número de ignições superior. “A prevenção do risco é tão elevada que desencoraja o investimento na floresta”, afirmou Paulo Fernandes.
As previsões para este ano parecem ser mais encorajadoras face ao ano passado, época trágica em termos de incêndios, pela dimensão que atingiram, mas, sobretudo, pelas perdas humanas em que resultaram. Com incêndios de grande dimensão, muitos com mais de cinco mil hectares. “Espero menos área ardida, pela extensão do inverno, mais comprido, e, principalmente, porque a área ardida no ano passado foi muito grande nas regiões que tradicionalmente ardem mais”, referiu o investigador da UTAD. A média da área ardida é de 120 mil hectares por ano. “Há muitas coisas que se sabem há muito tempo, mas tardamos a ver as consequências. Nenhum governo faz aquilo que devia ser feito”, lamentou Paulo Fernandes. A reflorestação da área ardida também não está a correr da melhor forma. “Não há consistentemente uma actuação sobre o território com a rapidez e a vontade que se devia e podia fazer”, criticou Francisco Castro Rêgo. A criação dos Grupos GAUF (Grupo de Análise e Uso de Fogo) “foi útil nos anos 2007-2009, contribuíram para a redução das áreas ardidas, mas depois fruto do seu sucesso foram considerados dispensáveis”, alertou o presidente da Sociedade Portuguesa de Florestas, que defende a aposta na prevenção, na gestão florestal, atuação no terreno e avaliação do programa de sapadores florestais. “Tudo isto devia ter mais apoios”, realçou.
O risco de incêndio “é alto ou muito alto”
Os concelhos de Carrazeda de Ansiães, Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé e Freixo de Espada à Cinta são os que apresentam maior risco de incêndio no distrito de Bragança, mais de 60%. No entanto, segundo um estudo realizado por docentes da ESA, toda a região apresenta riscos, na ordem dos 50%. “Mais de metade do território do distrito de Bragança apresenta suscetibilidade ao incêndio classificada de Alta a Muito Alta”, explicou Felícia Fonseca, uma das docentes envolvidas no projeto.
As razões são principalmente de natureza climática (índice de aridez) e também relacionadas com a degradação dos solos. A crescente ocupação dos solos com matos também tem contribuído para o aumento da suscetibilidade ao incêndio.
O estudo tem por objetivo perceber se existem relações entre a perigosidade de incêndio e indicadores de suscetibilidade à desertificação traduzidos pelo índice de aridez, grau e risco de degradação dos solos e uso do solo.
A evolução recente do coberto vegetal do solo, com redução da área agrícola e aumento das áreas florestal e de matos, “apontam para a necessidade de se definir uma estratégia de gestão dos matos de modo a reduzir a suscetibilidade ao incêndio, resultando numa maior conservação do recurso solo”, descreveu a investigadora da ESA. Também os incentivos à adoção de boas práticas em áreas de exploração agrícola e florestal (agro-ambientais) indicam que muito se tem progredido, mas Felícia Fonseca diz que é necessário mais. Começando por uma avaliação metódica dos impactes dessas medidas, feita ainda de modo parcelar e não integrado.
A desertificação e um grau de degradação dos solos elevado são os principais fatores para este cenário pouco animador. “O distrito reúne todas as condições para que os fogos se possam propagar com a agravante de não haver medidas de prevenção”, referiu a docente.
Entre 2001 e 2011 arderam em Bragança 4923 hectares, 9% da área florestal do concelho. “Estamos abaixo dos valores nacionais e distritais da área ardida”, refere Hernâni Dias, autarca.
Associações preocupadas
A ausência de perspetivas a longo prazo na intervenção da floresta é uma preocupação das associações florestais. Estamos em maio e as associações ainda não sabem qual o plano do governo para as equipas de Sapadores Florestais. “Na Associação Arbórea temos duas equipas de Sapadores Florestais, uma na Serra da Coroa e outra na zona da Lomba, no concelho de Vinhais, mas precisávamos de mais uma para chegar à margem do Baceiro”, afirmou Eduardo Roxo, presidente daquela associação. A intervenção das equipas tem corrido bem. “Os nossos sapadores têm sido altamente eficazes”, garantiu. Reclama-se ainda mais especialização nessas equipas de acordo com as áreas que protegem, apostando na prevenção e no combate às pragas.
No tema florestas há muitas outras questões que inquietam o dirigente associativo. “Também nos preocupa que se voltem sobretudo para o combate aos incêndios quando a floresta tem muitas mais coisas que é preciso ter em conta. O incêndio vem a juzante, antes disso há a questão da limpeza e das pragas”, explicou. Outra questão prende-se com “uma perspetiva punitiva, quando se devia apostar na prevenção.
Publicado em 'Mensageiro de Bragança'.
Os incêndios florestais representam um terço de prejuízos no total do valor da rentabilidade do setor florestal anual, cujos ganhos equivalem a 1300 milhões de euros por ano em Portugal. “Não nos podemos dar ao luxo de estar a produzir uma riqueza que depois cerca de um terço é perdida. O que é brutal”, afirmou o presidente da Sociedade Portuguesa de Florestas, Francisco Castro Rêgo, à margem do Seminário Incêndios Florestais que se realizou na Escola Superior Agrária de Bragança (ESA) na sexta e sábado.
O responsável considera que os planos de ação existem, todavia “não estão a ser concretizados por falta de estabilidade política”. Estas dificuldades ficam a dever-se a vários fatores, como a “instabilidade de direções, mudanças sucessivas de políticos, cada vez que vem um novo quer rever o que está a ser feito, as alterações de leis orgânicas nos serviços, bem como as fusões de organismos”, afirmou Francisco Castro Rêgo, que também lamentou “que, muitas vezes, quem manda só fique alertado para as situações depois de acontecerem grandes incêndios”.
Os fogos dão origem a floresta de pior qualidade, bem como a prejuízos ambientais e económicos. A área florestal não está a regredir. “Temos cada vez mais floresta de pior qualidade, temos cada vez mais povoamentos mistos de pinheiro e eucalipto”, acrescentou. No mesmo evento também se defendeu que a redução da área ardida passa “por trabalhar em várias frentes”, como a “redução do número de ignições, aposta na intervenção, na gestão do combustível e na melhoria do combate aos incêndios, que ainda é bastante frágil”, referiu Paulo Fernandes, investigador da Universidade de Trás-os- Montes e Alto Douro (UTAD). Esta alteração implicaria, para o docente, “uma mudança em termos políticos, dando mais ênfase à prevenção, deslocando algum investimento do combate para a prevenção”, justificou.
Portugal tem muita área ardida porque tem condições naturais propícias, como o clima, condições de terreno, tipos de vegetação, ao que acresce um número de ignições superior. “A prevenção do risco é tão elevada que desencoraja o investimento na floresta”, afirmou Paulo Fernandes.
As previsões para este ano parecem ser mais encorajadoras face ao ano passado, época trágica em termos de incêndios, pela dimensão que atingiram, mas, sobretudo, pelas perdas humanas em que resultaram. Com incêndios de grande dimensão, muitos com mais de cinco mil hectares. “Espero menos área ardida, pela extensão do inverno, mais comprido, e, principalmente, porque a área ardida no ano passado foi muito grande nas regiões que tradicionalmente ardem mais”, referiu o investigador da UTAD. A média da área ardida é de 120 mil hectares por ano. “Há muitas coisas que se sabem há muito tempo, mas tardamos a ver as consequências. Nenhum governo faz aquilo que devia ser feito”, lamentou Paulo Fernandes. A reflorestação da área ardida também não está a correr da melhor forma. “Não há consistentemente uma actuação sobre o território com a rapidez e a vontade que se devia e podia fazer”, criticou Francisco Castro Rêgo. A criação dos Grupos GAUF (Grupo de Análise e Uso de Fogo) “foi útil nos anos 2007-2009, contribuíram para a redução das áreas ardidas, mas depois fruto do seu sucesso foram considerados dispensáveis”, alertou o presidente da Sociedade Portuguesa de Florestas, que defende a aposta na prevenção, na gestão florestal, atuação no terreno e avaliação do programa de sapadores florestais. “Tudo isto devia ter mais apoios”, realçou.
O risco de incêndio “é alto ou muito alto”
Os concelhos de Carrazeda de Ansiães, Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé e Freixo de Espada à Cinta são os que apresentam maior risco de incêndio no distrito de Bragança, mais de 60%. No entanto, segundo um estudo realizado por docentes da ESA, toda a região apresenta riscos, na ordem dos 50%. “Mais de metade do território do distrito de Bragança apresenta suscetibilidade ao incêndio classificada de Alta a Muito Alta”, explicou Felícia Fonseca, uma das docentes envolvidas no projeto.
As razões são principalmente de natureza climática (índice de aridez) e também relacionadas com a degradação dos solos. A crescente ocupação dos solos com matos também tem contribuído para o aumento da suscetibilidade ao incêndio.
O estudo tem por objetivo perceber se existem relações entre a perigosidade de incêndio e indicadores de suscetibilidade à desertificação traduzidos pelo índice de aridez, grau e risco de degradação dos solos e uso do solo.
A evolução recente do coberto vegetal do solo, com redução da área agrícola e aumento das áreas florestal e de matos, “apontam para a necessidade de se definir uma estratégia de gestão dos matos de modo a reduzir a suscetibilidade ao incêndio, resultando numa maior conservação do recurso solo”, descreveu a investigadora da ESA. Também os incentivos à adoção de boas práticas em áreas de exploração agrícola e florestal (agro-ambientais) indicam que muito se tem progredido, mas Felícia Fonseca diz que é necessário mais. Começando por uma avaliação metódica dos impactes dessas medidas, feita ainda de modo parcelar e não integrado.
A desertificação e um grau de degradação dos solos elevado são os principais fatores para este cenário pouco animador. “O distrito reúne todas as condições para que os fogos se possam propagar com a agravante de não haver medidas de prevenção”, referiu a docente.
Entre 2001 e 2011 arderam em Bragança 4923 hectares, 9% da área florestal do concelho. “Estamos abaixo dos valores nacionais e distritais da área ardida”, refere Hernâni Dias, autarca.
Associações preocupadas
A ausência de perspetivas a longo prazo na intervenção da floresta é uma preocupação das associações florestais. Estamos em maio e as associações ainda não sabem qual o plano do governo para as equipas de Sapadores Florestais. “Na Associação Arbórea temos duas equipas de Sapadores Florestais, uma na Serra da Coroa e outra na zona da Lomba, no concelho de Vinhais, mas precisávamos de mais uma para chegar à margem do Baceiro”, afirmou Eduardo Roxo, presidente daquela associação. A intervenção das equipas tem corrido bem. “Os nossos sapadores têm sido altamente eficazes”, garantiu. Reclama-se ainda mais especialização nessas equipas de acordo com as áreas que protegem, apostando na prevenção e no combate às pragas.
No tema florestas há muitas outras questões que inquietam o dirigente associativo. “Também nos preocupa que se voltem sobretudo para o combate aos incêndios quando a floresta tem muitas mais coisas que é preciso ter em conta. O incêndio vem a juzante, antes disso há a questão da limpeza e das pragas”, explicou. Outra questão prende-se com “uma perspetiva punitiva, quando se devia apostar na prevenção.
Publicado em 'Mensageiro de Bragança'.
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