Os resultados da segunda fase do Concurso Nacional de Acesso revelaram uma descida global do número de colocados e candidatos face a 2011, sendo que este já tinha sido um ano muito mau quando comparado com 2010.
Poder-se-á argumentar que tal se pode dever a evoluções demográficas ou à (falta de) vontade dos jovens em tirar um curso superior. Mas não creio que assim seja. Se analisarmos o número de candidatos à primeira fase de candidaturas, quando se candidata a grande maioria dos jovens, verificamos que as oscilações têm sido frequentes e abruptas, com um máximo de 53 451 em 2008, ou valores reduzidos em 2005 (39 193) e em 2011 (46 899). Quem conhece o sistema sabe que estas oscilações se devem, sobretudo, à variabilidade da dificuldade das provas específicas de acesso ao ensino superior.
É óbvio que o País não tem uma política de acesso ao ensino superior. Como o nível de aprendizagem ao longo dos 12 anos de escolaridade não parece ter sofrido alterações ao longo dos últimos anos, o que varia é apenas o número de jovens reprovados ou impossibilitados de se candidatarem ao ensino superior. Sorte para a geração de 2008, pouca sorte para as gerações de 2005 e 2011.
Este ano temos um problema acrescido, que condiciona inequivocamente os resultados das colocações das 1.ª e 2.ª fases do concurso nacional. Entrou este ano em vigor uma portaria que determinou maior dificuldade no acesso a alguns cursos, com especial incidência nas áreas das Engenharias e Ciências Agrárias. Embora o princípio que lhe serve de base tivesse a nobre intenção de procurar um maior nível de exigência, que obrigasse a uma melhor aprendizagem e, consequentemente, um maior sucesso escolar no futuro, a ausência de intervenção no sistema educativo anulou desde logo estes objetivos.
O resultado prático foi uma hecatombe generalizada nas áreas das Tecnologias e um desvio dos estudantes para áreas já saturadas em termos de mercado de trabalho e de menor empregabilidade. Pior, acentuou-se a redução do número de jovens em condições de poderem candidatar-se ao ensino superior, face ao que já tinha acontecido em anos anteriores. Pior porque, face à diminuição atual das hipóteses de emprego para quem não tem qualificações específicas, corremos o risco de estar a originar uma geração de jovens potencialmente explosiva do ponto de vista social: a geração "Nem nem" - nem estudam nem trabalham.
Penso que esta situação obriga a uma reflexão conjunta dos agentes que intervêm na área educativa, nomeadamente as instituições de ensino superior e o Ministério da Educação. Tenho a certeza de que as instituições politécnicas, que deram no passado recente um exemplo ao País de capacidade de adaptação aos novos desafios da sociedade, nomeadamente na qualificação de novos públicos e no incremento de formações tecnológicas, terão toda a disponibilidade para encontrar soluções e serão pró-ativas na sua procura.
Custa dinheiro qualificar e recuperar jovens para a qualificação? Custa! Mas porventura muito menos do que o preço que o País tem de pagar por cada jovem que não se qualifica. É que, infelizmente para eles e para todos, não é à custa dos que auferem o salário mínimo que o País pode conseguir gerar receita para sair da crise e ser mais competitivo.
Até lá, e com o receio de que quase nada vá mudar nos próximos tempos, resta-me desejar sorte para os candidatos de 2013. Será bom para eles, mas sobretudo para o País. Sempre teremos menos "Nem nem"...
* PRESIDENTE DO CONSELHO COORDENADOR DOS INSTITUTOS SUPERIORES POLITÉCNICOS
Publicado em 'DN'.
Poder-se-á argumentar que tal se pode dever a evoluções demográficas ou à (falta de) vontade dos jovens em tirar um curso superior. Mas não creio que assim seja. Se analisarmos o número de candidatos à primeira fase de candidaturas, quando se candidata a grande maioria dos jovens, verificamos que as oscilações têm sido frequentes e abruptas, com um máximo de 53 451 em 2008, ou valores reduzidos em 2005 (39 193) e em 2011 (46 899). Quem conhece o sistema sabe que estas oscilações se devem, sobretudo, à variabilidade da dificuldade das provas específicas de acesso ao ensino superior.
É óbvio que o País não tem uma política de acesso ao ensino superior. Como o nível de aprendizagem ao longo dos 12 anos de escolaridade não parece ter sofrido alterações ao longo dos últimos anos, o que varia é apenas o número de jovens reprovados ou impossibilitados de se candidatarem ao ensino superior. Sorte para a geração de 2008, pouca sorte para as gerações de 2005 e 2011.
Este ano temos um problema acrescido, que condiciona inequivocamente os resultados das colocações das 1.ª e 2.ª fases do concurso nacional. Entrou este ano em vigor uma portaria que determinou maior dificuldade no acesso a alguns cursos, com especial incidência nas áreas das Engenharias e Ciências Agrárias. Embora o princípio que lhe serve de base tivesse a nobre intenção de procurar um maior nível de exigência, que obrigasse a uma melhor aprendizagem e, consequentemente, um maior sucesso escolar no futuro, a ausência de intervenção no sistema educativo anulou desde logo estes objetivos.
O resultado prático foi uma hecatombe generalizada nas áreas das Tecnologias e um desvio dos estudantes para áreas já saturadas em termos de mercado de trabalho e de menor empregabilidade. Pior, acentuou-se a redução do número de jovens em condições de poderem candidatar-se ao ensino superior, face ao que já tinha acontecido em anos anteriores. Pior porque, face à diminuição atual das hipóteses de emprego para quem não tem qualificações específicas, corremos o risco de estar a originar uma geração de jovens potencialmente explosiva do ponto de vista social: a geração "Nem nem" - nem estudam nem trabalham.
Penso que esta situação obriga a uma reflexão conjunta dos agentes que intervêm na área educativa, nomeadamente as instituições de ensino superior e o Ministério da Educação. Tenho a certeza de que as instituições politécnicas, que deram no passado recente um exemplo ao País de capacidade de adaptação aos novos desafios da sociedade, nomeadamente na qualificação de novos públicos e no incremento de formações tecnológicas, terão toda a disponibilidade para encontrar soluções e serão pró-ativas na sua procura.
Custa dinheiro qualificar e recuperar jovens para a qualificação? Custa! Mas porventura muito menos do que o preço que o País tem de pagar por cada jovem que não se qualifica. É que, infelizmente para eles e para todos, não é à custa dos que auferem o salário mínimo que o País pode conseguir gerar receita para sair da crise e ser mais competitivo.
Até lá, e com o receio de que quase nada vá mudar nos próximos tempos, resta-me desejar sorte para os candidatos de 2013. Será bom para eles, mas sobretudo para o País. Sempre teremos menos "Nem nem"...
* PRESIDENTE DO CONSELHO COORDENADOR DOS INSTITUTOS SUPERIORES POLITÉCNICOS
Publicado em 'DN'.
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