Os três jovens vão concluir os seus cursos no IPB
São três os estudantes sírios que
num primeiro momento vão continuar
os cursos no Instituto Politécnico
de Bragança (IPB), mas
em princípio deverá vir um quarto,
uma vez que a instituição se
disponibilizou para receber um
número superior.
Os jovens estão em Bragança desde
o início da semana passada e
fazem parte do grupo de 42 estudantes
sírios que chegaram a
Portugal no dia 1 de março, para
continuar os estudos em universidades
portuguesas e politécnicos,
no âmbito da Plataforma
Global de Assistência Académica
de Emergência, iniciativa do
ex-Presidente da República Jorge
Sampaio. A Plataforma Global
Para os Estudantes da Síria tem
parcerias com a Liga dos Estados
Árabes, o Conselho Europeu, a
União para o Mediterrâneo, o
Alto Comissariado da Organização
das Nações Unidas (ONU)
para os Refugiados e o Instituto
para a Educação Internacional,
dos Estados Unidos.
Os estudantes sírios foram obrigados
a interromper os seus estudos
na sequência da guerra civil
naquele país, com os rebeldes
em confronto com as forças do
regime de Bashar al-Assad desde
2011.
Rami Araft, está já a frequentar
o mestrado em Engenharia Química
no IPB, e espera concluir
nesta instituição a sua formação.
“A cidade é um local agradável
e seguro, mas ainda estou a estabelecer
os primeiros contactos
e a habituar-me”, afirmou. Estar
longe de casa é uma experiência
difícil, sobretudo para quem foi
obrigado a deixa-la por causa da
guerra. A sua família continua na
Síria, apesar de estarem num sítio
seguro, está preocupado e prefere
não falar no assunto. “A situação
lá continua muito má”, contou o
jovem. Por agora quer concentrar-
se nos estudos e aproveitar
esta nova vida num país diferente,
enquanto não pode regressar
a casa.
Nour Abun é outro dos estudantes
sítios que está no IPB. Conta
que veio porque assim decidiu.
“Esta é a única hipótese de continuar
a vida, prosseguir os estudos
e concluir a licenciatura. Na
Síria é impossível ir à escola ou
à universidade, porque as escolas
não funcionam porque é muito
perigoso”, recordou.
O terceiro jovem, Emad Sweed,
não quis prestar declarações.
Além das aulas dos respectivos
cursos vão ainda frequentar a
disciplina de português “para se
adaptarem melhor e para enriquecerem
o seu currículo”, justificou
Sobrinho Teixeira, presidente
do IPB.
Helena Barroco, assessora de
Jorge Sampaio e coordenadora
da operação, esteve em Bragança,
para ver se os jovens se estão
a adaptar a Trás-os-Montes, e explicou
que os jovens foram distribuídos
por várias instituições
de ensino superior que se ofereceram
para os receber. “De Bragança
tivemos a generosa oferta
de receber quatro estudantes, seleccionamos
em função do perfil
dos alunos”, contou.
A vinda dos estudantes para Portugal,
Egipto, Líbano, Iraque, Turquia
e Estados Unidos da América,
começou com um concurso
online, aberto durante 15 dias, e
com mais de 2500 candidaturas.
Destas foram seleccionadas 1600
completas e aptas a passar à segunda
fase. “Depois de o prazo
fechar, nos dias seguintes, recebemos
mais de mil candidaturas.
Foi uma selecção apertada, com
base em critérios académicos e
com base nos perfis de cada um,
em que contou a experiência cívica,
a situação familiar e o desejo
de irem para um ou outro país”,
explicou Helena Barroco.
O acordo é válido por um ano
“para testar os resultados académicos”,
mas pode ser renovado
por mais dois anos.
O IPB disponibilizou-se para receber
de cinco estudantes e em
princípio virá mais um aluno
para a instituição transmontana.
“Aderimos porque temos obrigação
de o fazer e temos condições
para o fazer porque temos muitos
estudantes estrangeiros e várias
oferta formativa em inglês”, referiu
Sobrinho Teixeira, que acrescentou
“que durante muitos anos
haverá uma geração de sírios que
não terão hipótese de estudar”.
Com este programa procura-se
que os estudantes depois regressem
ao país. “Eles deixaram lá a
família e querem voltar”, acrescentou
o presidente do IPB. A boa
capacidade de acolhimento da
cidade de Bragança e o respeito
pela diferença são outras razões
apresentadas pelo responsável
“podem sentir-me mais enquadrados
no ambiente internacional
do instituto”.
Publicado em 'Mensageiro de Bragança'.