04 janeiro, 2016

Jovens músicos alegraram Natal nos cuidados paliativos


Foram 34 as vozes que em coro entoaram canções de Natal e do cancioneiro português para levar um pouco da magia da quadra mais festivado inverno aos doentes dos cuidados paliativos do Hospital de Macedo de Cavaleiros.
A música e o canto eram dos alunos da Escola Superior de Educação de Bragança (ESE) a emoção foi de quem ouviu, principalmente dos utentes, muitos dos quais não poderam passar o Natal em suas casas. O concerto aconteceu na passada quarta-feira, 16, naquela unidade, onde muitos, dada a pouca saúde, têm poucas oportunidades de lá sair para ir a concertos ou espetáculos. Não foi o primeiro, nem será o último, mas foi especial, talvez por nesta altura os sentimentos estarem à flor da pele. “É mais tocante cantar aqui no hospital e , sobretudo nesta época”, resumiu Catarina Batista, 22 anos, uma das vozes do coro. Os concertos na Unidade de Paliativos são possíveis graças a um protocolo entre a Unidade Local de Saúde do Nordeste e o Instituto Politécnico de Bragança que permite que os alunos ali possam fazer sessões fora do âmbito das aulas. “Da nossa parte é uma forma de dinamizar a unidade e permitir aos doentes que não têm possibilidade física, emocional e social de ter esta experiências no dia a dia”, explicou Duarte Soares, médico na unidade, que diz que o objectivo também passa por “trazer a sociedade para dentro do hospital”.
A Unidade de Cuidados Paliativos dispõe de 17 vagas, 15 da Rede Nacional e duas do hospital, que estão sempre ocupadas. Cerca de dois meses após o início deste intercâmbio, os benefícios da musicoterapia são visíveis. “Ainda não temos dados objetivos para medir, mas avaliamos aquilo que se passa na nossa unidade tanto com os doentes como com as famílias. Denota- se uma motivação e uma alegria diferentes ao retirar o foco da doença e dos problemas em si para outra qualidade de vida e outra dimensão, que é social e espiritual por parte dos doentes. Para aproveitarem o tempo que lhes resta”, referiu Duarte Soares.
Este tipo de iniciativa deverá ser alargada a outras áreas, como o teatro, a fisioterapia e contactos com familiares emigrados. “Trazem uma dinâmica diferente à unidade. Nos últimos cinco anos já se observa uma mudança de mentalidade em relação aos cuidados paliativos”, acrescentou o médico. A unidade de Macedo de Cavaleiros era vista como um local de morte, porque os doentes eram deslocados para lá tarde. “Já pouco se poderia a fazer”, admitiu Duarte Soares. “Estamos a mudar isso. Os doentes são referenciados mais cedo e temos mais tempo para trabalhar com eles e passa a unidade a ser de convívio em que os doentes em situações difíceis também partilham necessidades”. Serafim dos Santos Lopes, 85 anos, natural de Valpaços, foi um dos doentes que se encantou com a música. “Gosto de ver a juventude”, contou.
Vasco Alves, coordenador do departamento de Educação Musical da ESE, explicou que havia um compromisso para levar o coro daquela escola. “Os alunos estão envolvidos e conscientes da circunstância específica que são os cuidados paliativos. As atuações têm sido gratificantes pelo que sabemos da parte dos doentes, torna-se evidente que é um momento agradável, que atenua o sofrimento que atravessam”, referiu o docente. Para os músicos esta também é uma experiência diferente e compensadora. “ Saímos daqui com o coração cheio e com o sentido de dever cumprido. Nós temos que adaptar a forma como atuamos, o repertório que executamos tem que ser adequado às necessidades específicas”, acrescentou o docente.

Publicado em 'Mensageiro'.

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