13 março, 2007

Aposta na investigação aplicada à comunidade

Glória Lopes
O presidente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Sobrinho Teixeira, quer que os politécnicos do Norte se constituam como um nicho de competitividade na região e país.
Para o efeito, defende o incremento das ligações com a Associação dos Politécnicos do Norte, que integra várias instituições, nomeadamente o politécnico de Bragança, Porto, Viana do Castelo e Cavado/Ave, no sentido de essa associação passar a ser uma base para a competitividade, através da cooperação a vários níveis.

Na forja está a criação de projectos em comum: um sistema de mestrados, ministrados pelas quatro instituições; centros de investigação, com uma vertente mais aplicada; e ainda um sistema de prestação de serviços comum. “A região é grande, e pequena, para os desafios que se colocam ao IPB, e ao trazermos investigadores e prestadores de serviços para a região podemos ajudar ao seu desenvolvimento” referiu o presidente.

A cooperação entre instituições de ensino pode constituir-se também como uma boa oportunidade para o intercâmbio de docentes.
O intercâmbio com outros politécnicos é uma das estratégias da instituição brigantina, que vai de encontro ao defendido pelos técnicos da Associação Europeia de Universidades (EUA) que na passada sexta-feira, 9, apresentaram, em Bragança, o relatório da avaliação institucional realizada ao IPB, mas que envolve mais nove instituições europeias de ensino superior. A EUA representa 750 universidades de 45 países da Europa. A avaliação feita ao IPB obedeceu à análise de vários parâmetros: plano estratégico, esforço interno da instituição, fraquezas e forças, elaboração de um relatório interno por parte da própria instituição de ensino, e obrigou a duas visitas ao local.

De acordo com o relatório final, a instituição de Bragança, no ranking qualitativo, está nos primeiros lugares, senão mesmo no primeiro. O grande posto a desfavor é o facto de o IPB se localizar numa região empobrecida, mas ao mesmo tempo isso transformou-se em força e num factor positivo, “porque representa um grande sucesso a nível nacional”.

Entre os melhores
As conclusões da avaliação são francamente positivas para a instituição. O presidente admite que não estava à espera, e que ficou “confortado” por se tratar de uma apreciação positiva e feita por uma equipa de avaliação externa, “que não foi sujeita a qualquer tipo de pressão”, frisou.
O relatório distingue o IPB em relação aos demais, não faz avaliações negativas, mas aponta sugestões para delinear uma estratégia a seguir, “algumas das quais foram equacionadas no último conselho geral” adiantou Sobrinho Teixeira.
Os técnicos da EUA sugerem uma maior coordenação e centralidade dentro da instituição, que integra cinco escolas (Escola Superior de Educação, Escola Superior de Saúde, Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Escola Superior Agrária e Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Mirandela). Sobrinho Teixeira contrapõe que é preciso “moderação na centralidade”, e defende uma maior coordenação, por exemplo ao nível da promoção conjunta e global do IPB, ao invés do que acontece actualmente, com promoções individuais por escola. “Leva a um grande despêndio de recursos e a uma menor eficácia no retorno, e até algum desgaste da própria imagem institucional”. No entanto, não defende uma concentração de decisões. “A riqueza da instituição esteve sempre na diversidade de opiniões”.
A questão da promoção do IPB está a ser equacionado, vai-se proceder à revisão dos estatutos, para criar dois lugares junto à presidência para centralizar a questão da publicidade e do marketing e para fazer uma maior aposta na área do empreendedorismo.

Dentro da estratégica que se vai seguir, surge uma parte menos visível, “mas que será uma das mais dolorosas e mais estratégicas”, Sobrinho Teixeira referia-se à coordenação da investigação. “Não é mais possível continuar a ter 120 doutores a fazer investigação sem que isso tenho um retorno na colectividade, poderá ser doloroso, mas alguns terão adaptar as investigações a uma vertente mais útil para a comunidade”. A aposta deverá ser seis ou sete áreas de investigação com vista ao desenvolvimento da região, com uma maior ligação às empresas. Uma das apostas será no ramo Agrário, “porque temos a melhor escola do país, o que ficou evidente no número de mestrados atribuídos ao IPB” referiu aquele responsável. A Escola Superior Agrária de Bragança viu aprovados recentemente três novos mestrados na área das Ciências Agrárias, “as restantes escolas do país não tiveram direito a nenhum”, salientou. Prevê-se ainda a criação de centros de investigação nesta área com ligação aos produtores regionais.

Outra inovação está relacionada com a criação de um Centro de Estudos do Idoso. “Poderá ser uma boa oportunidade para as Escolas de Educação e Saúde, com os diversos cursos, uma vez que este é uma nicho que não está coberto no país e que o IPB devia aproveitar” explicou.
Apesar de a região não dispor de um tecido industrial, o politécnico brigantino pode ter um papel determinante, criando linhas de investigação aplicada em determinadas áreas de desenvolvimento industrial, “ao dar essas competências aos seus alunos, pode ser um indutor de nichos”. A investigação na área das energias alternativas, será um aspecto a desenvolver, uma vez que a região tem condições propícias: muito vento em diversos concelhos, na Terra Quente tem muitas quantidades de horas de sol, e muita área para a produção de biomassa. Neste âmbito está a ser delineado um mestrado comum com a Universidade de Salamanca.
Quanto ao pólo do IPB em Mirandela, Sobrinho Teixeira prometeu que a presidência vai ter uma “medida pro-activa para distinguir Mirandela” e trabalhar para que até 2010, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão instalada naquela cidade esteja dotada com as infra-estruturas necessárias. Os aspectos relacionadas com aquela instituição, eram os que suscitavam uma maior ao receio ao presidente, uma vez que temia uma “avaliação menos positiva sobre a importância e continuidade” da escola.

Publicado no jornal 'O Informativo' de hoje.

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