15 março, 2007

À noite na… escola

Aida Sofia Lima
Instituto Politécnico funciona 24 horas

Muitas das instituições de ensino superior do país funcionam com um horário de meio dia, isto é, abrem as portas às oito da manhã e encerram às oito da noite. O Instituto Politécnico de Bragança é um dos casos de excepção Disponibiliza as suas instalações, todos os dias da semana, incluindo fins-de-semana, 24 horas por dia.
“Nós aqui tentamos tirar o máximo proveito do facto de o Instituto Politécnico ter vigilância permanente. Temos sempre um vigilante de serviço em cada uma das escolas. Isso permite, para além do serviço base de ronda, de verificação de avarias, a possibilidade de professores e alunos trabalharem fora de horas nas instalações”, explicou Conceição Martins, presidente do Conselho Executivo da Escola Superior de Educação de Bragança (ESE).
Economicamente, este tipo de utilização incessante dos espaços tem custos mais elevados. “O facto de termos vigilância 24 horas tem mais custos. Aquilo que nós sabemos de outras instituições, que já tiveram este tipo de vigilância e que, por razões orçamentais, optaram por fazer novos contratos, é que tiveram redução nos gastos. Apesar de isso ser tema de discussão no instituto, essa será a última medida a tomar do ponto de vista financeiro, porque sentimos que a nossa política é uma mais valia para o trabalho dos professores e alunos”, sublinhou Conceição Martins.

Quem entra na ESE à noite depara-se com meia dúzia de alunos espalhados pelos sofás da entrada, com computadores portáteis no colo. Estão a usufruir do sistema wireless que a escola disponibiliza no seu espaço, permitindo um acesso pleno e gratuito à internet. Contudo, para quem não possui os novos equipamentos tecnológicos, existem salas de informática, onde os alunos poderão navegar sem limites.
Para além da procura da internet, muitos dos estudantes frequentam a escola fora de horas para trabalhar em grupo, estudar, pesquisar na biblioteca, ensaiar, praticar desporto, executar trabalhos artísticos, entre outras actividades. A única regra é entrar na escola até por volta da meia-noite, sem horário de saída obrigatório.
Não só os alunos se dirigem à noite ao estabelecimento de ensino. Muitos docentes aproveitam o espaço fora do horário lectivo para se reunirem, trabalharem e receberem alunos.
Ana Paula Sismeiro, professora de Psicologia, é uma das presenças nocturnas habituais. “Já fiquei muitas noites a trabalhar na escola até de madrugada, ou entrar de madrugada, uma vez que é necessário fazer determinados serviços. Os trabalhos são diversos. Por exemplo, no ano passado atendia alunos até à uma da manhã. Mas também já tive reuniões de departamento até às cinco horas da madrugada”. Apesar de o trabalho realizado ser superior ao número de horas previstas, os professores encaram com naturalidade a situação. “o facto de a escola estar aberta 24 horas é uma mais valia, porque o trabalho tem que ser feito e, se a escola fechasse, impunha-se uma grande dificuldade logística. A escola aberta é um recurso muito importante”, explica Ana Paula.
Também a docente de Português, Dina Rodrigues, partilha da opinião da colega. Assim, explica-nos as vantagens de uma escola sempre aberta: “nós trabalhamos muito aqui. Não é problema jantar às 22h ou nem jantar. O facto de não fechar não nos condiciona com timings e cortes e o nosso trabalho flúi continuadamente. Também quando preciso de um documento sei que posso vir buscá-lo a qualquer hora e não interromper o trabalho para o dia seguinte”. E acrescenta que, no caso das deslocações em trabalho, seja reuniões ou estágios, poder ir buscar o carro de serviço a qualquer hora é uma grande vantagem. Também existe a possibilidade de repor aulas e de realizar exames que exigem uma logística nem sempre disponível durante o período de aulas.

Para as aulas de Português leccionadas aos alunos Erasmus, é imprescindível que a escola esteja aberta à noite, uma vez que, como referiu Dina Rodrigues, “seria impensável estes alunos terem aulas durante o dia. Pois estas são dirigidas aos alunos de todo o politécnico, de cursos variados das três escolas, com horários de aulas muito distintos”.
“Ninguém vê a ocupação nocturna como um sacrifício, mas sim como uma vantagem, porque nos resolve muitos problemas pontuais. Quer para professores, quer para alunos, seria dramático se impusessem o fecho da escola. Teria que existir uma reorganização, o que criaria alguns problemas”, sublinhou a docente.
São diversas as actividades desenvolvidas pelos alunos que aceitam a escola como sua. Por exemplo, na área da Educação Física existe uma utilização regular do ginásio. “Temos um protocolo com a Associação de Estudantes que promove desportos como Capoeira, Kickboxing, Karaté. Mas também existem outras modalidades promovidas pela escola, como aulas de Step, musculação, ou promovidas pela Associação de Funcionários do Politécnico, no caso das danças de salão”, enumerou Conceição Martins. Para além do desporto, em algumas épocas, decorrem aulas em regime nocturno e em horário pós-laboral funciona o Centro de Línguas.
Para a presidente da ESE, a escola é particular, uma vez que, como explica, “tendo muitas áreas do saber, desde música, expressão dramática, artes, educação física, informática, história, estas componentes acabam por ter aqui espaços onde todos podem rentabilizar o seu trabalho”.

Os utilizadores da escola
Salomé Rodrigues
Educação de Infância
“Utilizo os espaços da escola à noite para pesquisas na internet, fazer trabalhos individuais e de grupo, pesquisar na biblioteca. Por exemplo, na semana passada estive na escola das 20h às 4h, para preparar coisas para o meu estágio.
É importante manterem a escola aberta, porque, se não fosse assim, eu não poderia vir trabalhar à noite, não poderia usar a internet e durante o dia com aulas seria muito complicado”.

Diana Gonçalves
Educação de Infância
“Utilizo a escola à noite quando preciso de vir à internet ou para fazer trabalhos de grupo. Considero importante a escola disponibilizar as suas instalações, até porque há pessoas que não têm condições em casa e assim podem trabalhar”.

Olema Pires
Responsável da reprografia
“Por vezes funcionamos num horário alargado. Não sempre, porque não há dinheiro para pagar aos funcionários, mas tenho a certeza que, se estivesse todos os dias até à meia-noite, até à meia-noite teria alunos para atender. Muitas vezes venho à noite orientar o meu serviço para o dia seguinte, porque durante o dia há muito movimento.
Há sempre muita gente na escola à noite e eu acho muito bem que tenham o horário alargado, porque a escola é para servir os alunos, e para mim até deveria existir aulas no horário nocturno para os trabalhadores estudantes, porque eles têm muitas dificuldades.
Aos fins-de-semana também venho muitas vezes, até para ajudar os alunos”.

Paulo Rodrigues
Vigilante da escola
“Há muito movimento na escola durante a noite. Estão sempre cá professores e alunos. Os alunos vêm para a internet, fazer trabalhos, vão para a serigrafia, para a sala de cerâmica, desporto…
Até agora nunca houve problema nenhum. Estou aqui há nove anos e nunca se passou nada de anormal, até porque os alunos estão aqui para trabalhar e sabem que a escola é deles e que têm que a estimar.
A altura dos exames é a mais movimentada, também quando têm trabalhos. Diariamente há sempre alunos, até ao fim-de-semana. Talvez o dia mais fraco é a sexta-feira e sábado”.

Catarina Pipa
Professores de 1º ciclo
“Entrei na escola a esta hora para requisitar material, pois amanhã tenho estágio e o material só ficou disponível agora.
Utilizo a escola à noite para a internet, trabalhos de grupo. Acho que as entradas na escola deviam ser toda a noite, e o horário da biblioteca ser mais alargado, pois como finalista passo pouco tempo na escola durante o dia e à noite é a melhor altura para trabalhar e requisitar materiais na escola”.

Maria Almeida
Português / História
“Vim agora à noite para a escola para estudar e consultar livros na biblioteca. A escola aberta permite-nos ter acesso a livros, fazer trabalhos de grupo, conviver com os colegas, internet.
Para mim é habitual estar na escola diariamente até à meia-noite”.

Natalino Andrade
Engenharia Biomédica
“Entrei a esta hora na escola para usar os computadores, porque aqui é mais calmo e tem um ambiente acolhedor para o estudo.
Venho com alguma frequência, principalmente ao fim-de-semana, para os computadores ou estudar.
Normalmente fico cerca de três horas na escola, durante a noite.
Acho que é muito importante a escola ter estes espaços abertos à noite, porque nós, durante o dia, temos aulas e só à noite é que temos mais tempo livre para estudar. Acho louvável a iniciativa de deixar a escola aberta à noite, porque contribui para um melhor aproveitamento dos alunos”.

Bragança
Animação e Prod. Artística
“Muitas vezes venho para a escola à noite, para a internet, para organizar trabalhos com os colegas, estudar.
Considero importante a escola estar aberta, mas acho que o horário de entrada ainda devia ser mais prolongado, cerca de mais três horas.
O meu curso é mais prático e o horário nocturno é o mais apropriado para nós, porque de dia é difícil. Temos muitos trabalhos artísticos e à noite podemos dar melhor continuidade”.

Luís Miguel
Engenharia Mecânica
“Entrei agora na escola porque vou praticar Kickboxing e essa modalidade existe aqui, num horário nocturno. Duas vezes por semana, a partir das 21h30 até, por volta, das 23h30.
Aqui há muitos alunos, por exemplo na internet, ou trabalhos de grupo. Utilizo a minha escola também para essas actividades, à noite.
Acho importante a escola ter um horário alargado e se o horário de entrada fosse mais alargado, melhor. Por exemplo, quando queremos alguma informação imediata, seria mais fácil”.

Manuel Matos
Funcionário da escola
“As instalações desportivas têm grande ocupação, fundamentalmente fora do horário lectivo. Das 18h30 às 23h30, na parte de musculação, aeróbica, Step, depois no pavilhão o Kickboxing e a capoeira.
Há muitos alunos e também temos a associação dos funcionários do IPB, com danças de salão”.

Publicado no jornal 'Mensageiro de Bragança' de hoje.

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