26 outubro, 2010

“Base” para “Erasmus lusófono” passa pelo Politécnico de Macau

Primeiros alunos em mobilidade entre Politécnicos de Portugal e IPM esperados em Março
Estão a ser limadas as últimas arestas para o lançamento de um projecto piloto, ao abrigo do qual é dada a possibilidade aos alunos do IPM de frequentar um semestre do curso em Politécnicos de Portugal e vice-versa. Em Março, deverá arrancar o novo programa de mobilidade, que se espera que sirva de alavanca à criação de um “Erasmus lusófono”, adiantou Sobrinho Teixeira, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, em entrevista ao JTM.

Estão a ser limadas as últimas arestas para o lançamento de um projecto piloto, ao abrigo do qual os alunos do Instituto Politécnico de Macau podem frequentar um semestre do curso em Politécnicos de Portugal e vice-versa. Em Março, deve arrancar a “aventura” dos primeiros estudantes do novo programa de mobilidade, que se espera que sirva de alavanca à criação de um “Erasmus” capaz de abraçar a lusofonia

As sementes já foram lançadas, mas só a aproximação da Primavera deve trazer os frutos ou as “bases” para a criação de um programa de mobilidade de estudantes, que englobe o universo lusófono, semelhante ao “Erasmus” desenhado dentro do espaço europeu. Cozinhadas no seio do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) – do qual o Instituto Politécnico de Macau (IPM) faz parte –, essas bases traduzem-se na realização de uma “experiência piloto”, que irá permitir aos estudantes do IPM realizar um semestre do curso em Politécnicos de Portugal e vice-versa.
Considerada um “desafio”, a novidade foi avançada ao JTM pelo presidente do CCISP, Sobrinho Teixeira, na sequência de uma reunião do núcleo, que teve lugar no IPM, e onde a ideia foi “trabalhada” e “aceite”. Com efeito, espera-se que no segundo semestre – finais de Fevereiro/início de Março – se encontrem já em processo de mobilidade os primeiros alunos, revelou o presidente do CCISP. “O nosso objectivo é termos os primeiros alunos do IPM em processo efectivo de mobilidade em áreas que não sejam só as conotadas com a cultura e língua portuguesas”, afirmou, apontando como exemplos os cursos de engenharia, gestão ou administração, em que há “similitude de currículos e programas” entre as instituições de ensino.
Segundo Sobrinho Teixeira devem ser colocadas à disposição entre 25 a 30 vagas. Contingente que poderá ser alvo de uma reavaliação. “No futuro, temos de averiguar se é exagerado ou insuficiente”, disse o responsável. Dado que se trata de um programa novo e atendendo a que o número de alunos não deverá superar os 30, a oferta contempla, para já, sete Politécnicos de Portugal. “O IPM irá escolher os 25 ou 30 alunos mediante a disponibilização e a vontade dos alunos do leque de oferta que houve ao nível do CCISP, que coordenou este processo. Os Politécnicos portugueses, por seu turno, irão enviar para Macau estudantes depois de uma selecção feita a nível de cada instituição, à semelhança do que acontece com o “Erasmus”, sublinhou Sobrinho Teixeira, ao indicar que a definição dos critérios são, igualmente, da responsabilidade dos estabelecimentos de ensino. Critérios esses que, anotou, “passarão certamente pela demonstração da capacidade intelectual, bom domínio da língua inglesa ou estabilidade emocional”.
E a língua? Mais uma vez, as características do programa europeu voltam a servir de modelo. “Podemos receber alunos em Portugal que não falem português ou falem de uma forma rudimentar, mas também alunos que tenham conhecimentos de inglês”, sustentou Sobrinho Teixeira, ao destacar que “a realidade que existe hoje nos Politécnicos portugueses é uma realidade em que se recebe centenas de alunos provenientes do espaço europeu – a grande maioria deles provenientes até de países não latinos – e, portanto, a língua de comunicação com os colegas e com os próprios docentes é a inglesa”. Os Politécnicos lusos comprometem-se, ainda assim, a facultar um curso intensivo de português aos alunos do IPM.
Olhando para o programa, Sobrinho Teixeira considera que encerra três grandes funções. “Uma delas é naturalmente dar a conhecer a forma de ensino diferente do outro país ou território, o que figura como um enriquecimento tremendo no currículo dos alunos”, começou por enfatizar o também presidente do Instituto Politécnico de Bragança. A outra missão passa pelo “cimentar” de “um espírito de ligação àquilo que é o grande espaço da lusofonia que, em termos estratégicos futuros, tem um alcance muito grande”, destacou. Por outro lado, “um aluno de Engenharia que vá frequentar um semestre a Portugal não terá só o enriquecimento em termos da cultura, na medida em que terá acesso à aprendizagem de uma língua que cada vez tem mais expressão”. Em sentido inverso, um estudante de Portugal que venha frequentar um semestre da licenciatura em Comércio Internacional segue aqui as disciplinas com um enfoque que é ligeiramente diferente – porque é para a Ásia – e, portanto, há até um enriquecimento do ponto de vista científico”, exemplificou.
Em tudo idêntico ao programa “Erasmus”, o intercâmbio a ser lançado apresenta uma “mais-valia”, acentuou Sobrinho Teixeira, na medida em que “o protocolo prevê que os Politécnicos que recebem os alunos suportem as despesas de acomodação e alimentação. Há um acto de generosidade das próprias instituições”. Neste âmbito, o presidente do CCISP puxou das “condições” que o IPM oferece. “O IPM possui um edifício com 300 quartos e várias cantinas, o que lhe deu uma capacidade extraordinária. É uma mais-valia para esta cooperação”, relevou.
A ESCOLHA DE MACAU. A pergunta impõe-se: O que fez com que o IPM tenha sido escolhido para tomar parte do lançamento das bases para o “Erasmus lusófono”? Sobrinho Teixeira não hesita na resposta: “Estamos a implementar [este processo] com Macau por uma questão de afinidade porque há, de facto, uma grande ligação. O IPM faz parte do CCISP e depois tudo isso se traduz numa relação afectiva muito forte, o que determina que se possa iniciar este programa de forma voluntária”. Trata-se de aproveitar a ligação já existente, “até em termos pessoais”, o que faz com que “seja mais fácil criar aquilo que nos parece ser um grande projecto para a lusofonia”.
De salientar, contudo, que a ideia de se estabelecer um “Erasmus lusófono” não é nova, tendo sido recuperada no seio do XX Encontro da Associação de Universidades de Língua Portuguesa (AULP). “Este processo – a lançar pelos Politécnicos de Portugal e o de Macau – assume-se pioneiro no próprio desejo expresso em Macau por parte da AULP”, vincou. Assim, este passo figura como um “pequeno aspecto daquilo que a AULP quer concretizar que é alargar [o programa] a toda a lusofonia.
Segundo revelou ao JTM Sobrinho Teixeira, no próximo encontro da AULP – que vai decorrer entre 6 e 9 de Junho de 2011 em Bragança – espera-se precisamente dar “este exemplo” para que possa ser levado em conta como uma experiência e de modo a que o “processo de afirmação” dos Politécnicos saia realçado. “O facto do IPM e dos Politécnicos portugueses poderem mostrar já trabalho nessa área servirá de incentivo. É este trabalho que queremos apresentar como uma experiência na reunião da AULP” num painel que sirva de “reflexão” sobre a cooperação e proporcione a troca de experiências. “Não é só enviar um aluno, recebê-lo e pronto. Há todo um trabalho, até técnico, do modelo de organização e de responsabilidade. Por isso, pretendemos apresentar a todos os países lusófonos os resultados dessa experiência piloto de Macau e dos Politécnicos de Portugal”, completou.
OUTRAS COLABORAÇÕES. Há ainda expectativas em relação a outras cooperações futuras entre Politécnicos de Portugal e o de Macau, cujos tentáculos se estendem à investigação a mais de duas de mãos e à formação de docentes. Segundo o responsável, existe a vontade de se “estabelecer um diálogo para a formação de professores”. “Já tivemos oportunidade de dialogar com o Governo de Macau sobre esta matéria, numa abrangência conjunta de formação de docentes quer da Escola Portuguesa, quer das escolas secundárias luso-chinesas”, indicou Sobrinho Teixeira. Uma formação que, ressalvou, não tem de ser efectuada exclusivamente em português. “Esta capacidade tem de ser vista de uma forma pragmática e é essa a ultrapassagem que gostaríamos de fazer [no âmbito da] cooperação que, dentro em breve, deverá poder ser concretizada”, avançou.
“Ficou acordado e foi manifestado desejo de termos aqui [na RAEM] permanentemente um conjunto de três ou quatro docentes, por um período de mobilidade de seis meses ou de um ano, que ajudarão o IPM na afirmação da questão da língua. Ao mesmo tempo, iremos receber professores do IPM que irão falar sobre cultura chinesa e da história de Macau”, revelou o presidente do CCISP.
Outro aspecto passa pela colaboração em termos das áreas de investigação, tendo ficado estabelecido que o IPM será convidado a integrar a rede dos centros de investigação aplicada, cuja avaliação privilegia a capacidade de interacção desses centros com a comunidade em termos da realização de projectos concretos, em detrimento da produtividade científica. Tal, anotou, visa a “transferência de conhecimento entre Portugal e a Europa e, neste caso, Macau e a própria República Popular da China”.
O presidente do CCISP fez ainda um balanço “positivo” do programa de intercâmbio que une o Politécnico de Leiria e o IPM e se circunscreve ao curso de Tradução/ Interpretação português/chinês. O crescente interesse, a par com as experiências recolhidas junto dos alunos é prova disso mesmo, concluiu.


Publicado no 'Jornal Tribuna de Macau'.

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