Uma equipa de 18 botânicos trabalhou três anos para criar a primeira lista de referência das plantas de Portugal.
O inventário “limpou” repetições e nomes que vão mudando com o tempo e chegou ao número total de 3995 espécies.
À partida, fazer a lista das plantas pode parecer fácil. Mas não é. Foram três anos a estudar várias obras de referência – desactualizadas e regionais. Um autêntico labirinto por entre várias centenas de espécies. Miguel Sequeira, presidente da Associação Lusitana de Fitossociologia (entidade que elaborou a lista), explica ao PÚBLICO alguns problemas:“Por um lado, temos as espécies que, ao longo do tempo, foram adquirindo nomes diferentes e, por outro, há plantas que têm várias nomenclaturas, conforme a região. E temos de ter o cuidado de não esquecer nenhuma espécie.” O botânico admite que “nem sempre é fácil descobrir onde estão as repetições”.
A equipa – que reuniu investigadores das universidades dos Açores, Coimbra, Évora, Lisboa, Madeira, Porto, Trás-os-Montes e Alto Douro, Instituto Superior de Agronomia, Escola Superior Agrária de Bragança – definiu um conjunto de critérios e deitou mãos à obra, criando a primeira lista que tem todas as plantas vasculares – autóctones, endémicas e introduzidas – e que inclui todo o território nacional. Agora, pode dizer-se que estão listadas no continente 3314 espécies, 1006 no arquipélago dos Açores e 1233 na Madeira. É esta região que alberga o maior número de endemismos (espécies que não existem em mais nenhum lugar), com 157. Nos Açores esse número chega aos 78 e no continente aos 150. E se existem espécies “comprovadamente extintas por território” – nomeadamente três endemismos na Madeira e um nos Açores – e outras de que não se conhece o paradeiro há cem anos, também é verdade que, nas últimas décadas, a galeria de plantas de Portugal tem aumentado com espécies exóticas. De acordo com a lista, há 412 espécies introduzidas no continente, 710 nos Açores e 435 na Madeira. Miguel Sequeira explica o número mais elevado nas ilhas com a pressão humana. “No continente, os habitats já estão saturados e não permitem tanto a entrada de plantas novas como nas ilhas.”
Lurdes Carvalho, do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade – entidade que coordenou o projecto –, salientou que esta lista “permite tirar uma fotografia” da flora portuguesa, com muito “trabalho de actualização, clarificação e uniformização”.
A responsável lembrou que “aquilo que existia eram listas que não reuniam todos os elementos necessários, nem estavam actualizadas.
Esta é uma listagem definitiva”.
Ainda assim, deverá ser revista e actualizada anualmente. Além disso, acrescentou Lurdes Carvalho, há várias espécies que deviam merecer mais atenção, nomeadamente as plantas com potencialidades medicinais e de estabilização de margens dos cursos de água”.
A ideia do ICNB é também que a lista ajude a preparar elementos de apoio à tomada de decisão em conservação da biodiversidade. “Estão agora reunidas as condições para lançar um trabalho de identificação de acções de conservação, no sentido de preservar as espécies com maior relevância em termos de necessidade de protecção.”
O próximo passo será a produção da Lista Vermelha da Flora de Portugal, à semelhança do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, publicado em 2005.
Publicado no 'Público'.
O inventário “limpou” repetições e nomes que vão mudando com o tempo e chegou ao número total de 3995 espécies.
À partida, fazer a lista das plantas pode parecer fácil. Mas não é. Foram três anos a estudar várias obras de referência – desactualizadas e regionais. Um autêntico labirinto por entre várias centenas de espécies. Miguel Sequeira, presidente da Associação Lusitana de Fitossociologia (entidade que elaborou a lista), explica ao PÚBLICO alguns problemas:“Por um lado, temos as espécies que, ao longo do tempo, foram adquirindo nomes diferentes e, por outro, há plantas que têm várias nomenclaturas, conforme a região. E temos de ter o cuidado de não esquecer nenhuma espécie.” O botânico admite que “nem sempre é fácil descobrir onde estão as repetições”.
A equipa – que reuniu investigadores das universidades dos Açores, Coimbra, Évora, Lisboa, Madeira, Porto, Trás-os-Montes e Alto Douro, Instituto Superior de Agronomia, Escola Superior Agrária de Bragança – definiu um conjunto de critérios e deitou mãos à obra, criando a primeira lista que tem todas as plantas vasculares – autóctones, endémicas e introduzidas – e que inclui todo o território nacional. Agora, pode dizer-se que estão listadas no continente 3314 espécies, 1006 no arquipélago dos Açores e 1233 na Madeira. É esta região que alberga o maior número de endemismos (espécies que não existem em mais nenhum lugar), com 157. Nos Açores esse número chega aos 78 e no continente aos 150. E se existem espécies “comprovadamente extintas por território” – nomeadamente três endemismos na Madeira e um nos Açores – e outras de que não se conhece o paradeiro há cem anos, também é verdade que, nas últimas décadas, a galeria de plantas de Portugal tem aumentado com espécies exóticas. De acordo com a lista, há 412 espécies introduzidas no continente, 710 nos Açores e 435 na Madeira. Miguel Sequeira explica o número mais elevado nas ilhas com a pressão humana. “No continente, os habitats já estão saturados e não permitem tanto a entrada de plantas novas como nas ilhas.”
Lurdes Carvalho, do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade – entidade que coordenou o projecto –, salientou que esta lista “permite tirar uma fotografia” da flora portuguesa, com muito “trabalho de actualização, clarificação e uniformização”.
A responsável lembrou que “aquilo que existia eram listas que não reuniam todos os elementos necessários, nem estavam actualizadas.
Esta é uma listagem definitiva”.
Ainda assim, deverá ser revista e actualizada anualmente. Além disso, acrescentou Lurdes Carvalho, há várias espécies que deviam merecer mais atenção, nomeadamente as plantas com potencialidades medicinais e de estabilização de margens dos cursos de água”.
A ideia do ICNB é também que a lista ajude a preparar elementos de apoio à tomada de decisão em conservação da biodiversidade. “Estão agora reunidas as condições para lançar um trabalho de identificação de acções de conservação, no sentido de preservar as espécies com maior relevância em termos de necessidade de protecção.”
O próximo passo será a produção da Lista Vermelha da Flora de Portugal, à semelhança do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, publicado em 2005.
Publicado no 'Público'.
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