16 julho, 2015

Custos de produção elevados afastam produtores da cultura do lúpulo

Revitalização da cultura esteve em análise no IPB
 A Escola Superior Agrária de Bragança está a desenvolver uma operação de charme junto dos agricultores para que retomem a produção de lúpulo, que já foi uma das mais importantes do concelho há 40 anos, quando exportava, mas que caiu em desuso por razões económicas e empresariais, pois deixou de ser rentável quando os mercados internacionais baixaram os preços.
Atualmente no país, há apenas duas produções de lúpulo, ambas no distrito, uma Pinela e outra em Vinhas, que representam 12 hectares de cultura, vendida na totalidade para a Unicer- -Central de Cervejas. “A industria estrangeira nacional trabalha com matéria-prima comprada no estrangeiro. Agora as condições estão mais favoráveis e há espaço para outras regiões entrarem”, referiu Manuel Ângelo Rodrigues, docente e investigador na ESAB, onde na passada segunda e terça-feira decorreram várias iniciativas, como jornadas e seminários, sobre esta cultura. O investigador acredita que o lúpulo tem “um tremendo potencial” para se desenvolver na região, porque esta tem boas condições climáticas e de solo. “É preciso criar dinamismo na cultura pois os custos de instalação são muito elevados, são precisos equipamentos específicos. Seria necessário um programa de apoio para incentivar os novos produtores”, explicou o docente.

Custo pode chegar aos 15 mil euros por ha
Num bom ano cada hectare de lúpulo pode produzir até 2 mil quilos. Todavia, a instalação de um campo desta cultura “é caríssima”, revelou Humberto Sá Morais, o mais antigo produtor do país. Cada cinco hectares precisam de uma máquina de poda, outra de colheita e de uma para secagem. “Fazer um hectare de lúpulo, segundo as condições atuais, pode custar entre 10 a 15 mil euros”, realçou. A extração da flor de lúpulo é feita na Alemanha, o que agrava os custos.
Com uma visão positiva da situação, o diretor Regional de Agricultura, Manuel Cardoso, considera que há possibilidades de a cultura ser retomada, mas com mudanças substanciais nos métodos de produção que passam pelo aproveitamento de redes de rega já instaladas e que não estão a ser usadas, por rever as variedades de plantas utilizadas, e por fazer um estudo sobre os potenciais compradores e que tipo de lúpulo querem. “Os preços de instalação podem ser revistos com uma vantagem, não sendo tão caros como há 40 anos. É uma instalação cara, o que pode ser ultrapassado com ajuda de financiamentos”, referiu Manuel Cardoso.
A entrada na atividade pode ser subsidiada pelos incentivos previstos no PDR2020, tanto para jovens agricultores, como para os instalados que querem renovar a sua empresa agrícola. A cervejaria artesanal está a ser vista como um mercado a considerar, uma vez que a maioria das 100 já registadas em Portugal importam matéria-prima. Este mercado não é aliciante, segundo Humberto Sá Morais “porque consomem pouco”. Em sua opinião “os produtores tinham que se agrupar para comprarem”.
Gilberto Pintado, produtor da Freixbeer, cerveja artesanal de Freixo de Espada à Cinta, onde também tem um campo de lúpulo com três variedades de plantas, está confiante “desde que existam os apoios necessários”. A planta exige muita água, a cada 24 horas necessita de seis litros. “No nosso campo temos um sistema computorizado”, realçou Gilberto Pintado. Humberto Sá Morais produz 10 toneladas por ano, só acredita que a cultura possa ser revitalizada se houver garantia de escoamento.

Publicado em 'Mensageiro'.

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