24 julho, 2015

Importações de abelhas ameaçam sector apícola

 Há quem queira entrar no mundo da apicultura mas gostariam, por exemplo, que as abelhas fo ssem mansas ou que produzissem mais do que o habitual e por essa razão importam animais de outros países, espécies inadaptadas à biodiversidade da região e que podem ameaçar o sector apícola.
A especialista em genética de abelhas do departamento do Ambiente e Recursos Naturais do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Alice Pinto, defende que se deve melhorar e seleccionar a raça autóctone, a abelha ibérica (Apis mellifera iberiensis), e não andar a fazer misturas com raças que não estão adaptadas à biodiversidade da região transmontana.
A investigadora considera também que é um mau procedimento e um mau investimento andar a importar essas abelhas comerciais, pois, as rainhas depois vão fecundar zangões locais e daí vão resultar espécies que vão ameaçar a raça.
“Em Portugal e Espanha há alguns apicultores que importam essas raças comerciais. Há pessoas que compram muitas vezes porque querem trabalhar com abelhas mansas e nós devemos trabalhar com material genético que foi moldado pela natureza. Não faz sentido, os apicultores pagam bastante dinheiro por raças alteradas geneticamente, como é o caso da Buckfast muito utilizada agora, mas essas rainhas depois fecundam com os machos locais e depois será substituída pela filha que já será uma descendência híbrida. “A nossa abelha é sem dúvida a que tem melhor desempenho”, explica a investigadora.
Segundo Alice Pinto, os estudos científicos de genética de abelhas já publicados apontam que por vezes “é pior a emenda que o soneto” visto que as espécies híbridas resultantes desses cruzamentos criam abelhas ainda mais agressivas, ou melhor, defensivas, porque é agressiva para o ser humano mas no fundo elas só estão a defender- se de agressões externas.
“Em relação à questão da mansidão das abelhas, até é muito fácil melhorar essa característica, em quatro ou cinco anos de selecção consegue-se. E é isso que os apicultores têm de entender para pararem de importar animais”, acrescenta.
A abelha melífera, Apis meilifera L., distribui-se naturalmente na África, Médio Oriente e Europa. A adaptação à diversidade de condições ecológicas climáticas propiciou a evolução de mais de 24 subespécies entre as quais está a Apis mellifera iberiensis, predominante no Norte de Portugal.
A investigadora do IPB, Alice Pinto, está neste momento envolvida num projecto internacional chamado Centro de Conservação da Diversidade da Abelha na Europa e pretende sensibilizar os apicultores para as ameaças que outras espécies podem trazer para o sector.

Publicado em 'Raízes'.

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