26 fevereiro, 2016

Jovens físicos por um dia testaram acelerador de partículas do Bosão de Higgs no IPB


Cerca de 60 estudantes do ensino secundário de Bragança e Miranda do Douro mergulham na Física de Partículas numa espécie de aula laboratório, onde puderam experimentar investigação de ponta como o Bosão de Higgs, que teve lugar na passada quinta-feira no Instituto Politécnico de Bragança (IPB).
As Masterclasses Internacionais em Física de Partículas - um ramo da Física que estuda os constituintes elementares da matéria e da radiação, e a interação entre eles e suas aplicações - dão aos estudantes a oportunidade de participarem nas mesmas experiências que cientistas já realizaram, analisam dados reais recolhidos nas experiências do acelerador LHC do CERN, sob a supervisão de físicos. A Física das Particulares é essencial, por exemplo, para o desenvolvimento da Internet ou até de alimentos. No fundo “estamos sempre a ser bombardeados por partículas”, referiu Ana Isabel Pereira, docente no IPB, que sublinhou que a iniciativa tem como objetivo “atrair os alunos para a ciência, para que percebam o quanto estudar estas coisas é importante”.
Os jovens da Escola Abade de Baçal e da Escola Miguel Torga (Bragança) e da Secundária de Miranda do Douro tiveram ainda oportunidade de trocar opiniões, através de videoconferência, com outros de quatro países para analisar os resultados que conseguiram. “Vão discutir entre eles os resultados que obtiveram em cada uma das instituições. Eles analisaram os dados reais obtidos pelo acelerador de partículas do CERN durante uma hora e meia e depois discutem os resultados, com moderação dos físicos do CERN que estão na Suíça “, acrescentou a docente.
Enquanto tentava encontrar eletrões e fotões, Luís Raposo, 16 anos, aluno de Miranda do Douro, deu conta que se tratou de uma aula “diferente”, ainda que mais “complicada” do que as que tem na escola. Complexidade à parte, esta experiência possibilitou-lhe assimilar melhor “esta parte que é pouco falada”, referindo-se à investigação de ponta. Na sua explicação rápida, o jovem assinalou no écran do computador “a parte constituinte de um átomo que constitui toda a matéria que conhecemos. Gostei de compreender a dimensão desta parte que estuda sistemas tão complexos. Sabíamos que as partículas estão presentes em muita coisa, mas não imaginávamos a dimensão que isto tinha e onde nos pode permitir chegar”, revelou Luís Raposo.

Alunos de 45 paises
A iniciativa, que decorre em 210 universidades e laboratórios em 45 países em todo o mundo até 23 de março, propõe-se divulgar a Ciência e torná-la mais apetecível para as camadas jovens. “Para isso durante a manhã têm várias palestras sobre a temática, depois vão analisar em computador e com recurso a um programa desenvolvido pelo CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear) analisam o comportamento de electrões e protões e chegar a algumas conclusões”, explicou a docente Ana Isabel Pereira.
Outra estudante, Bárbara, 16 anos, aluna do 11º ano, também em Miranda do Douro, confessou que não é grande fã de Física, porque só gosta “mais ou menos”. Para gostar é preciso conhecer, daí que a participação na Masterclass lhe tenha dado “a oportunidade de lidar com as partículas”. Em causa estavam quatro experiências, nomeadamente ATLAS, CMS, ALICE e LHCb. Os participantes analisam os resultados das colisões entre protões que viajam ao longo dos 27 km do acelerador a velocidades muito próximas da velocidade da luz no vazio. Puderam redescobrir o bosão Z ou a estrutura do protão, reconstruir partículas “estranhas” ou medir a vida média da partícula D0. Um dos pontos altos é a procura de bosões de Higgs. As experiências ATLAS e CMS incluíram nos dados reais acontecimentos selecionados como possíveis bosões Higgs para os estudantes procurarem esta partícula rara, esquiva e de vida muito curta.
Para simular o ambiente de trabalho científico real, cada Masterclass termina com uma videoconferência, em que grupos de estudantes de diferentes institutos e países se ligam a dois moderadores no CERN (Genebra, Suíça) ou Fermilab (Batavia, Illinois, USA) para combinar e discutir os respetivos resultados. Podem também questionar os moderadores, numa sessão de perguntas e respostas. As videoconferências terminam geralmente com um questionário lúdico sobre física de partículas. Mais de 60 físicos ofereceram-se como voluntários para serem moderadores nas videoconferências.

Publicado em 'Mensageiro'.

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