27 setembro, 2010

Floresta: Cientistas falam de fenómeno de regeneração espontânea

A floresta portuguesa está a passar por um fenómeno de regeneração espontânea apontado ontem por especialistas da área como a forma “mais barata” de solução para o abandono do mundo rural e para as suas consequências gravosas, como incêndios florestais.

Afinal, dizem os peritos, a solução pode estar no próprio problema pois é o despovoamento e o abandono da agricultura tradicional que parecem estar a impulsionar esta “regeneração natural, com espécies indígenas de Portugal a brotarem espontaneamente por todo o lado”.

O fenómeno foi ontem abordado no final da conferência internacional que juntou durante quatro dias, em Bragança, cientistas de 46 países, numa iniciativa do grupo de ecologia da paisagem da IUFRO, a União Internacional de Organizações de Investigação Florestal.

Os desafios e soluções para as terras agrícolas abandonadas, como acontece nas regiões portuguesas do inteiro, mas também em toda a Europa, foi o tema do último simpósio.

As florestas autossustentáveis são a proposta dos investigadores Carlos Aguiar e Henrique Miguel Pereira para a transição.

“Mais do que plantar floresta de novo é cuidar da que está a nascer e está a nascer muita floresta por todo o lado. É uma boa política identificar onde essa floresta está a nascer e apoiá-la e cuidá-la, e é uma forma barata de o fazer”, defendeu Carlos Aguiar.

A primeira medida para este investigador deverá passar por “apostar em apoiar esta regeneração natural de espécies indígenas de Portugal como os carvalhos, azinheiras e sobreiros, que está a surgir espontane amente por todo o lado”.

O espaço para esta regeneração foi cedido justamente, segundo dizem, pelo abandono da agricultura e o despovoamento.

O reaparecimento destas espécies dar um contributo “a média prazo” para haver menos fogos florestais em Portugal, na opinião de Henrique Miguel Pereira.

Este investigador, que já teve responsabilidades no Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) não entende “como é que o sistema de combate aos incêndios ainda não tomou como máxima prioridade proteger as zonas de regeneração florestal”.

Trata-se, garantem, de espécies mais resistentes e com potencial económico de produção de madeira ou outros bens como cogumelos, mas também de conservação da natureza.

Henrique Miguel Pereira reconhece que esta “transição não é um sistema simples porque exige um envolvimento social e que haja uma visão partilhada pelos diferentes atores do que se pretende para o futuro destas regiões”.

As soluções teriam de ser adaptadas às diferentes realidades e, asseguram, que continuaria a haver espaço para a agricultura.

Sublinham, no entanto que “onze por cento da superfície de Portugal está acima dos 700 metros, onde o uso agrícola provavelmente não será recomendável”.

O que consideram que “não pode continuar a acontecer é o avanço do mato com “ uma série de problema associados em termos de ocorrência de fogos, e desfavorável à biodiversidade”.

Publicado em 'AgroPortal'.

1 comentário:

  1. Área agrícola está a diminuir
    Renaturalização favorece o aumento de espécies selvagens, mas prejudica outras

    A área agrícola da região transmontana está a diminuir. Este é um processo inverso quando comparado com o que está a acontecer em outras regiões do mundo, mas que, por seu lado, pode trazer alterações pouco favoráveis, levando à diminuição de alguma biodiversidade existente. Segundo João Carlos Azevedo, professor do Instituto Politécnico de Bragança, a perda de elementos constituintes das paisagens e a tendência para a homogeneização está a acontecer, na região, devido ao abandono da agricultura e da pecuária, conforme avançou à margem do congresso internacional sobre alterações globais realizado em Bragança. “A paisagem fica dominada por áreas de mato e de floresta e há um empobrecimento de alguns sistemas que tem aplicação ao nível da biodiversidade”, apontou. Mas se, por um lado, esta renaturalização das paisagens traz prejuízos para algumas espécies de fauna e flora, por outro, há espécies mais selvagens que têm tendência a aumentar. O problema é que estas últimas são minoritárias pelo que, em termos globais, as alterações possam ter efeitos não muito desejáveis. Daquilo que os investigadores têm observado e acompanhado, nos últimos 50 anos, a área agrícola diminuiu em mais de metade, mas este é, ainda, um processo em curso, conforme notou João Azevedo. “As paisagens são dinâmicas, estes processos estão em curso”. Nos últimos dez anos, Portugal perdeu mais de 390 mil hectares de superfície agrícola utilizada.
    em Mensageiro Bragança

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