26 janeiro, 2008

Produção científica cresceu 91,5%

Pedro Araújo

Base de dados ISI destaca politécnico e Universidade do Porto, à frente nos números provisórios de 2007

Investigadores nacionais escreveram 42,341 artigos científicos ao longo de oito anos

A produção científica das instituições de ensino público (universitário e politécnico), mais a Universidade Católica, quase duplicou entre 2000 (3424) e 2007 (6559). O aumento de 91,5% em oito anos teve como principais responsáveis as universidades do Porto e Técnica de Lisboa. No subsector dos politécnicos, o Porto segue claramente à frente.


Em oito anos, as instituições de ensino produziram 42.341 artigos científicos citáveis, isto é, excluindo documentos tais como cartas a editores de revistas científicas e outras referências que, embora indexadas no ISI, não têm um verdadeiro valor científico. A Universidade Técnica de Lisboa acaba por suplantar a congénere do Porto na análise conjunta dos oito anos: 7870 artigos contra 7117. No entanto, a Universidade do Porto ultrapassou a Técnica de Lisboa (1163 contra 1081 artigos) no ano passado, facto inédito, pelo menos desde 2000.

José Ferreira Gomes, professor catedrático de Química na Universidade do Porto e relator do estudo, elaborado pela Faculdade de Ciências e Instituto Superior de Engenharia do Porto, reconhece a importância do aumento da produção científica para as instituições. A notoriedade não é menor para os autores indexados no ISI, uma base de dados que possibilita aos investigadores serem conhecidos e citados por colegas de outros países. Ferreira Domes tem já cerca de 80 artigos científicos indexados no ISI reconhece a importância para a carreira dos professores. Ter artigos no ISI conta para o currículo dos docentes, sobretudo quando concorrem a determinados lugares' sublinha.

Analisando os totais dos oito anos, detectam-se diferenças significativas entre as instituições. A Universidade Aberta produziu apenas 84 artigos e tem vindo a cair desde 2003. O ISCTE, instituição que pretende negociar a passagem a fundação, produziu apenas 109 artigos. Estes números devem, no entanto, ser relativizados em função da qualificação do corpo docente. Ou seja, por exemplo, a Universidade Aberta tinha, no final de 2006, 103 doutores a tempo integral e oISCTE 198. Tanto a Universidade do Porto como a Técnica de Lisboa tinham, nessa mesma data, mais de 1200 doutores a tempo integral.

Impacto internacional

A contabilidade da produção científica a nível interno, comparando posições relativas das instituições e respectiva evolução ao longo dos anos é útil, mas o fim último das instituições é ganhar estatuto internacional, surgindo em rankings ao lado da concorrência. Esse facto acentuou-se como Processo de Bolonha, que abriu um espaço europeu concorrencial de Ensino Superior. "A Universidade do Porto sabe que os números têm muito impacto e preocupa-se muito com os resultados porque sabe do prestígio que daí advém", sublinha Ferreira Gomes.

Os resultados já se fizeram sentir. A produção científica em Portugal, medida pelo número de publicações, aumentou 23%, em 2006. Os 7527 artigos e outros escritos dos portugueses, referidos pelo Science Citation Index Expanded (Sol), colocaram, pela primeira vez, o país à frente da Irlanda (7350).

Em 1990, Portugal publicava o equivalente apenas a um terço da produção científica irlandesa e 1/10 da espanhola. A distância para Espanha reduziu-se para 1/5, mas deve-se ter em conta que a população é quatro vezes maior. Entre 1990 e 2006, as Ciências (Química, Física, Medicina, Biologia, engenharias, entre outras) produziram 55 573 publicações.

A Universidade Técnica de Lisboa lidera no total de artigos produzidos entre 2000 e 2007, mas perdeu liderança para o Porto no último ano

Hospital S. João mais produtivo no ano passado

• O Hospital S. João, no Porto, produziu 73 artigos científicos em 2007 (números provisórios), ficando à frente do Santa Maria de Lisboa, com 69 artigos, e dos Hospitais Universitários de Coimbra, com 49 artigos. No histórico de 2000 a 2007, o Santa Maria bate (484) 0 S. João (473).

Segundo José Ferreira Gomes, um dos autores do estudo sobre o ISI, os números totais dos hospitals não podem ser somados aos das respectivas universidades, uma vez que alguns dos artigos se encontram referenciados nos dois lados. Por outro lado, no período de 2000 a 2007, a percentagem de documentos citáveis originados nos hospitais que não mencionam a universidade é de 31% no Hospital de S. João, de 70% no Santo António e de 47% no Santa Maria.

No ano passado, o Hospital de Santo António produziu 42 artigos, quase tanto quanto os Universitários de Coimbra. Os professores ou investigadores sediados no Hospital de São Marcos, em Braga, foram responsáveis por 13 artigos em 2007, e apenas 35 no total dos oito anos em análise. Em último lugar, surge o Hospital Cova da Beira, na Covilhã, com 7 artigos desde 2000, tendo começado a produzir os primeiros em 2005, facto explicável pela circunstância de a licenciatura em Medicina ter começado a funcionar há pouco tempo.

“A não citação da universidade de origem por parte dos médicos que dão aulas deve-se, em muitos casos, a simples esquecimento. O facto não deixa de causar alguma confusão, embor não me pareça que possa alterar significativamente a posição relativa das instituições de ensino", explica Ferreira Gemes.

Segundo o relatório sobre os dados do ISI, o erro provocado pelo esquecimento de referenciar correctamente a universidade provocará um desvio na ordem dos 5% para documentos citáveis. No caso em análise, os autores estimam uma sobreavaliação de 3% na produção da Universidade de Coimbra.

Bragança aposta forte nos doutores

O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e um dos casos mais curiosos O seu corpo docente tinha produzido S artigos em 2000. No ano passado, o ISI dá contado 59 referências citáveis, quase 10 vezes mais do que oito anos antes

João Alberto Teixeira, presidente do IPB, chama a atenção para e 126 doutorados que a instituicão já formou, aos quais se juntarão mais 120 até 2010 Contas feitas, dentro de três anos, 65% do seu corpo docente será composto por doutores, “Há longos anos que o IPB fez da qualificação dos seus docentes um objectivo fundamental. Demos sempre a entender aos professores que a sua evolução nunca seria por favoritismos, mas antes com base na produtividade cientifica", afirma "Actualmente, surgem três novos doutorados por mês no IPB. Os fundos comunitários do PRODEP financiaram a 75% as contratações necessárias para a substituição integral dos docentes em doutoramento", acrescenta. De acordo com João Alberto Teixeira, o ranking iberoamericano, liderado no plano nacional pela Universidade do Porto, já reflecte a qualidade científica do IPB, “Se tivermos em conta a dimensão relativa das instituições, o IPB está em primeiro lugar, entre as instituições portuguesas, nas áreas de Química e Ciência e Tecnologia dos Alimentos", refere.

O novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) exige 15% de doutores nos politécnicos quando IPB tem 40% e aponta para 65% em 2010 “O RJIES não veio alterar a nossa política decrescimento da qualidade científica. Dentro de urn ano, já teremos 50% de doutores”. Recentemente, a Associação das Universidades Europeias avaliou muito positivamente o lPB.

Publicado no jornal 'Jornal de Notícios, p. 2-3' de hoje.

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