13 junho, 2011

Presidente do IPM homenageado em encontro académico lusófono

Mais de 400 reitores, presidentes e outros responsáveis de instituições de ensino superior e de investigação científica dos oito países lusófonos e de Macau juntaram-se em Bragança, de 6 a 9 de Junho, para o XXI Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP). Em torno do tema “Novas Formas de Cooperação: Espaços de Convergência nos Países Lusófonos”, debateram questões respeitantes à mobilidade académica, modalidades e programas de financiamento, creditação e múltipla titulação, transferência de conhecimento, parques tecnológicos, articulação entre projectos de inovação e empreendedorismo, formação docente e “e-learning”.

Visitas a locais de interesse histórico e cultural, incluindo o Douro vinhateiro, património mundial, exposições, lançamentos de livros, um concerto, jornadas de convívio e uma feira de cooperação no âmbito do ensino superior complementaram as palestras, mesas redondas e reuniões de trabalho, integrando um programa bem elaborado pelo secretariado da AULP e pelo Instituto Politécnico de Bragança, digno anfitrião deste Encontro, que contou com a colaboração da Câmara Municipal e de outros organismos desta cidade do nordeste transmontano, capital de distrito.

Mariano Gago, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, abriu o Encontro numa sessão que contou com intervenções de Clélio Diniz Campolina, reitor da Universidade Federal de Minas Gerais e presidente da AULP, João Sobrinho Teixeira, dinâmico presidente do Instituto Politécnico de Bragança e também presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), António Rendas, reitor da Universidade Nova de Lisboa e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, e Hélder Vaz, director-geral da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A conferência de encerramento teve como orador convidado Joaquim Chissano, ex-Presidente da República de Moçambique.

Medalha de Mérito do CCISP

Instituída apenas em Abril do corrente ano, a Medalha de Ouro de Mérito do CCISP foi atribuída, por deliberação unanimemente aprovada no dia 10 de Maio por este Conselho, a Lei Heong Iok, presidente do Instituto Politécnico de Macau, sendo esta a primeira individualidade contemplada com tal distinção. O acto solene da entrega da medalha teve lugar a 6 de Junho, primeiro dia do Encontro, com a presença de altas individualidades académicas e políticas, tendo sido enaltecido pelo presidente do CCISP e por Adriano Moreira, vice-presidente da Academia das Ciências de Lisboa, o contributo relevante do homenageado para o fortelacimento das relações académicas entre Portugal e a Região Administrativa Especial de Macau e para a promoção e valorização da língua e cultura portuguesas através do Instituto Politécnico de Macau.

O ex-presidente do Instituto Politécnico de Leiria, também ex-presidente do CCISP, Luciano de Almeida, com quem foram iniciadas importantes acções de cooperação e intercâmbio com Macau, apresentou uma resenha das iniciativas académicas e culturais que o Instituto Politécnico de Macau tem levado a efeito com uma multiplicidade de instituições do mundo lusófono, após o que o presidente do CCISP convidou o autor deste artigo, na qualidade de presidente do Instituto Internacional de Macau e ex-membro do Governo do território, para fazer o elogio do homenageado.

O percurso do homenageado

Aceitando com prazer a incumbência, acentuei deste modo alguns momentos do seu percurso académico e profissional:

A atribuição da Medalha de Ouro de Mérito ao Prof. Lei Heong Iok, presidente do Instituto Politécnico de Macau, é um gesto simbólico de alto significado que homenageia uma instituição macaense que tem querido e conseguido reforçar os laços de cooperação com instituições académicas e culturais portuguesas e de outros países lusófonos, mais de dez anos após a transição bem sucedida de Macau, ao mesmo tempo que distingue a personalidade que, pelo seu esforço, interesse, saber, lucidez e entusiasmo, tem sabido assumir este relevante projecto, dando-lhe forma e sentido muito antes das autoridades centrais chinesas terem definido as linhas mestras de orientação política para Macau, confiando ao território, hoje Região Administrativa Especial da República Popular da China, a responsabilidade de funcionar como plataforma de cooperação da China com os Países de Língua Portuguesa, permitindo-lhe retomar, com pragmatismo e de forma ainda mais vigorosa e consequente, a sua vocação histórica, no cumprimento duma missão singular que uma língua, raízes comuns e interesses estratégicos actuais determinaram irrecusavelmente.

Ligam-me ao Prof. Lei relações de trabalho e de amizade que têm mais de três décadas. Julgo assim poder pôr de parte o seu currículo oficial de várias páginas que tenho aqui, para referir apenas dois conjuntos de circunstâncias, um de cariz político e o outro de natureza académica, para enaltecer o seu contributo e o seu percurso.

Foi na esfera política que o conheci quando ele, discreta e competentemente, desempenhava funções na Agência Noticiosa Nova China, que assegurava a representação das autoridades centrais chinesas em Macau, na vigência da administração portuguesa. Era eu membro do Governo Português de Macau, na década de 80, quando, numa visita oficial à RPC, foi ele designado por aquela agência para me acompanhar e à minha comitiva, que integrava o Dr. Manuel Coelho da Silva, que está hoje entre nós e que dirigia então e muito bem os Serviços de Educação e Juventude, uma das áreas que eu tutelava no Governo. Pudemos nessa visita apreciar as suas qualidades humanas, o seu saber e o seu profissionalismo.

Ao longo dos meus anos no Governo de Macau pude compreender a relevância e delicadeza da sua actividade, assegurando como intérprete e tradutor qualificado a ligação das autoridades chinesas locais com governadores e outras altas entidades portuguesas. Num meio como aquele, esse papel era mesmo da maior importância, já que todos sabemos como é muitas vezes decisiva a actuação do intérprete em conversações e negociações...

Como chefe adjunto do Gabinete de Assuntos Externos da Delegação em Macau da Agência Noticiosa Nova China e como oficial de ligação do Grupo de Terras Luso-Chinês, creio que o Prof. Lei cumpriu exemplarmente a sua missão.

Retornou depois a Pequim, sua terra natal, onde tinha permanecido até concluir a licenciatura em Estudos Ingleses na Universidade de Línguas Estrangeiras, que teve a maior eficácia na formação de quadros superiores que permitiram à China estreitar relações diplomáticas, culturais e económicas com outros países.

Tinha, entretanto, estudado português em Macau e depois em Lisboa, onde teve como mestres os Professores Malaca Casteleiro e Fernando Alves Cristóvão. E era professor de Língua Portuguesa na Universidade de Línguas Estrangeiras antes de desempenhar os cargos que há pouco referi. Retomou, assim, funções docentes na sua universidade, mas por pouco tempo porque as saudades de Macau eram enormes e para lá decidiu um dia retornar. Foi um processo algo atribulado que o Prof. Lei poderá um dia recordar no seu livro de memórias.

Esclarecida a sua situação perante as autoridades chinesas e estando eu novamente no Governo, já na última década da administração portuguesa, obtive a concordância do Governador Vasco Rocha Vieira para aproveitar a experiência e o saber do Prof. Lei, colocando-o na Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, como assessor da directora, Dra. Maria Edith da Silva, que dirige proficientemente, desde 1998, a Escola Portuguesa de Macau. Ao mesmo tempo, foi redactor-chefe e coordenador da edição chinesa do jornal ʻEducação e Juventudeʼ. Esteve nessas funções de 1994 a 1996, ano em que lhe lancei um novo desafio – o de assumir responsabilidades na Escola Superior de Línguas e Tradução do IPM, como subdirector. Doutorou-se, entretanto, na Universidade de Sun Yat Sen em História Moderna da China.

Tive o privilégio de ser o presidente da comissão instaladora do IPM e, como tal, o seu primeiro presidente, sendo agora, por especial deferência dos seus responsáveis, o seu presidente honorário. Ligam-me, pois, ao IPM laços de grande afecto. À medida que nos aproximávamos do fim do período de transição, fomos escolhendo as pessoas para os cargos cimeiros nas instituições públicas de Macau e, no caso do IPM, fizemos uma aposta segura no Prof. Lei. No ano lectivo de 1998-99 foi vice-presidente e de 1999 até ao presente é presidente e professor coordenador do IPM, sendo também professor honorário de vários outros institutos e universidades.

Não abandonou, porém, completamente a actividade política. Foi membro da comissão eleitoral do Chefe do Executivo da RAEM e é membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e de diversos outros organismos consultivos.

Tem obra publicada e recebeu prémios e outras distinções académicas.

Para caracterizar a personalidade do Prof. Lei, posso recorrer àquelas sábias e conhecidas palavras de Lao Zi: ʻNão se expondo a si próprio, resplandece; não fazendo alarde dos seus méritos, é honrado; não se ufanando do que fez, tem carácter; não se vangloriando a si mesmo, é respeitadoʼ. Ou, como diria Confúcio: ʻO homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está próximo da virtudeʼ. Estas palavras aplicam-se por inteiro a Lei Heong Iok.

Parabéns ao IPM e a Lei Heong Iok por esta merecida distinção.

Jorge A. H. Rangel - Presidente do Instituto Internacional de Macau

Publicado em 'Tribuna de Macau', 13/06/2011.

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